Matraga (Dec 2012)

A HISTÓRIA À DERIVA EM ‘AS NAUS’, DE LOBO ANTUNES: IDENTIDADE E CONSCIÊNCIA HISTÓRICA

  • Cláudio José de Almeida Mello,
  • Antônio Roberto Esteves

Journal volume & issue
Vol. 19, no. 31

Abstract

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O romance As naus (1988), de António Lobo Antunes, dialoga com a História de Portugal mediante a incorporação na temática e na articulação da forma de um debate candente no seio da sociedade portuguesa contemporânea, cuja tensão consiste na natureza problemática da identidade nacional, decorrente do desenvolvimento histórico do país, no qual se confrontam o discurso da grandeza imperial perdida e a realidade de decadência econômica. O romance pode ser lido como um retrato da desilusão de um povo que não consegue mais acreditar em mitos redentores e que trata de ancorar-se em uma imagem coletiva, propiciadora do sentimento de pertença do indivíduo a um presente que não pode prescindir do passado, construído pelo discurso histórico “ aquele que deu sustentação ao mito da pátria imperial. Essa relação entre presente e passado é permeada por uma dimensão política subjacente à discussão sobre o modo como o indivíduo se relaciona com o tema da perda do império, vendo-se em um país com uma história gloriosa, cuja ideia de nação se sustenta na épica dos feitos heroicos, em contraposição a um cotidiano que a desmente. Nesse processo, a perda das ilusões contribui para a rediscussão do ideal nacionalista. O diálogo com a história, articulado no discurso ficcional, trata de evidenciar a maneira como essa relação perpassa a composição da obra, especialmente através da confluência dos tempos na narração, exprimindo um conflito interior pela criatividade discursiva, o que pode ser lido como um instrumento político de questionamento da história hegemônica.

Keywords