Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

O OLHAR DO HEMATOLOGISTA PARA ANEMIA FERROPRIVA REFRATÁRIA A FERROTERAPIA E A SUSPEITA DIAGNÓSTICA DE DOENÇA CELÍACA: RELATO DE CASO

  • LCM Faial,
  • CSG Faial,
  • AN Norberg,
  • JCDS Boechat

Journal volume & issue
Vol. 46
pp. S22 – S23

Abstract

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Objetivo: Descrever dois casos de anemia ferropriva como manifestação de doença celíaca. Material de método: Trata-se de um estudo descritivo baseado na análise de anamnese do paciente, exames complementares e revisão da literatura. Resultados: Primeiro caso EMP 71 anos, branca, casada, bancária aposentada, procedente de bom Jesus do Itabapoana, portadora fibrilação atrial, doença do refluxo gastroesofágico e síndrome mielodisplásica sem anemia, evolui com fraqueza, emagrecimento, esteatorreia, perda de gordura glútea, distensão abdominal e anemia normocítica normocrômica. Exame físico: palidez cutâneo mucosa ++/4+, queilite angular. Na endoscopia digestiva alta: hérnia de hiato por deslizamento, gastrite enantematosa moderada de corpo gástrico, discreta duodenite crônica inespecífica com redução vilositária e linfocitose intraepitelial. Solicitado cinética do ferro e anticorpos de rastreio de doença celíaca: anticorpo anti-transglutaminase tecidual IgA 67, IgG 1,5, anti-endomísio IgA 1:160, IgG não reagente, anti-gliadina IgA > 142 e IgG 25, ferritina 43,5 ng/mL e índice de saturação de transferrina 21%. Realizado diagnóstico de doença celíaca e ferropenia sintomática. Iniciado dieta sem o glúten e ferroterapia. Quatro meses após paciente ganhou 8 kg informou disposição para as atividades diárias, sem queixas gastrointestinais. Na nova cinética do ferro: índice de saturação de transferrina ascendeu para 27% e ferritina 45,3. Secundo caso SOB 23 anos, branca, solteira, nutricionista, natural e procedente de Bom Jesus do Itabapoana, portadora de hipotireoidismo por tireoidite de Hashimoto desde os 7 anos em uso de levotiroxina 162,5 mcg/dia, hipercolesterolemia. Informa queda de cabelo, desânimo e sonolência mesmo em suplementação de ferro há 4 meses. Uso de dispositivo intra-útero hormonal, fluxo menstrual normal, refere constipação e irritabilidade. História familiar: avó materna portadora de hipotireoidismo por tireoidite de Hashimoto e cirrose auto-imune. Exame físico: palidez cutâneo-mucosa +/+4 Hemograma: Hb 13,9 g/dL; Hct 40,7%; VCM 92,3 mm3 HCM 31,5 pg; CHCM 34,2g/dL; RDW 12,7%; Leucometria (0,9/3,9/0/0/0,5/43,1/43,9/7,7) plaquetas 256 400 mm3, ferritina 24 ng/mL. No rastreio de doença celíaca: anti-gliadina IgA 15, IgG 40; anti-transglutaminase tecidual IgA > 128, igG1,4; anti-endomísio IgA reagente 1:320, IgG não reagente. Endoscopia digestiva alta com biopsia de mucosa de duodeno em andamento, ajustado a reposição de ferro. Discussão: a doença celíaca é enteropatia imunomediada, crônica, do intestino delgado, precipitada pela ingestão de glúten na dieta. Apresenta fenótipo variado de assintomático a gravemente sintomática, a anemia ferropriva pode ser o único sinal de doença tanto em crianças quanto em adultos. Há o risco aumentado de desenvolver linfoma não hodking. O diagnóstico perpassa pela dosagem de anticorpos da classe IgA e IgG: anti-endomísio, anti-gliadina desaminase, anti-transglutaminase tecidual e biopsia da mucosa duodenal por endoscopia ou cápsula de sucção. A dieta restritiva ao glúten, melhora os sintomas intestinais, previne complicações autoimunes e garante sucesso da ferroterapia. Conclusão: A doença celíaca é um distúrbio intestinal crônico, imunomediado, com potencial morbimortalidade, cujo hematologista deve estar atento na busca da etiologia da anemia ferropriva.