Acta Médica Portuguesa (Nov 2021)

Animais Venenosos em Território Português: Abordagem Clínica de Picadas e Mordeduras

  • Sofia R. Valdoleiros,
  • Inês Correia Gonçalves,
  • Carolina Silva,
  • Diogo Guerra,
  • Lino André Silva,
  • Fernando Martínez-Freiría,
  • Fátima Rato,
  • Sandra Xará

DOI
https://doi.org/10.20344/amp.15589
Journal volume & issue
Vol. 34, no. 11

Abstract

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Em território português, existem várias espécies autóctones de animais capazes de provocar envenenamento e doença clinicamente significativa, com potencial de gravidade. Das quatro espécies de serpentes com relevância clínica, as víboras (Vipera latastei e Vipera seoanei) são as mais preocupantes; podem causar doença grave e necessitam de abordagem hospitalar, monitorização e tratamento específico, incluindo soro antiveneno. As serpentes Malpolon monspessulanus e Macroprotodon brevis causam maioritariamente manifestações clínicas locais, sem tratamento específico. Apenas uma minoria das espécies de aranha presentes em Portugal possui quelíceras (apêndices bucais dos Chelicerata, em forma de tenaz ou gancho, que podem conter veneno ou encontrar-se ligados às glândulas venenosas, usados para predação ou captura de alimentos) suficientemente compridas para perfurar a pele humana, mas as picadas de Latrodectus tredecimguttatus e Loxosceles rufescens podem implicar tratamento diferenciado em ambiente hospitalar, com necessidade de vigilância ativa. O tratamento da picada das centopeias Scolopendra cingulata e Scolopendra oraniensis é sintomático. A única espécie de escorpião presente em território nacional, Buthus ibericus, causa geralmente sintomas locais com dor intensa; o tratamento habitualmente baseia-se apenas na administração de analgesia. Os insetos da ordem Hymenoptera, como as abelhas e vespas, possuem capacidade de libertar veneno através de picadas; a maior parte dos indivíduos apresenta apenas reações inflamatórias locais ou regionais, para as quais a aplicação de medidas sintomáticas é suficiente, mas indivíduos que apresentem hipersensibilidade ao veneno podem desenvolver reações anafiláticas. Na costa portuguesa e em águas pouco profundas, encontram-se várias espécies marinhas venenosas para os humanos, como Echiichthys vipera (peixe-aranha comum), Dasyatis pastinaca, Taeniura grabata e Myliobatis aquila (ratões), Scorpaena scrofa (rascasso-vermelho), Pelagia noctiluca, Chrysaora hysoscella e Physalia physalis (cnidários) e Hermodice carunculata (verme-do-fogo), cujas picadas necessitam apenas de tratamento sintomático. O contacto com as larvas ou cerdas (estruturas quitinosas com funções locomotoras ou tácteis) de Thaumetopoea pityocampa (lagarta-do-pinheiro) pode provocar reações cutâneas, oculares e, raramente, respiratórias; a sua abordagem também é sintomática.

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