Revista Portuguesa de Cardiologia (Feb 2012)

Hemoglobina: um mero valor analítico ou um poderoso preditor de risco em doentes com síndromes coronárias agudas?

  • Muriel Ferreira,
  • Natália António,
  • Francisco Gonçalves,
  • Pedro Monteiro,
  • Lino Gonçalves,
  • Mário Freitas,
  • Luís Augusto Providência

Journal volume & issue
Vol. 31, no. 2
pp. 121 – 131

Abstract

Read online

Resumo: Introdução: A anemia tem sido associada a um pior prognóstico, e particularmente a uma mortalidade mais elevada em diversas condições patológicas. Contudo, poucos estudos analisaram especificamente o seu impacto a curto e a longo prazo, em doentes com Síndrome Coronária Aguda. Este artigo tem como objetivo analisar a associação entre diferentes quartis de hemoglobina na admissão hospitalar e o prognóstico a curto e a longo prazo em doentes com síndrome coronária aguda. População e métodos: Estudo retrospetivo de 1303 doentes consecutivamente admitidos com síndrome coronária aguda numa unidade de cuidados intensivos coronários, procurando analisar a associação entre os níveis basais de hemoglobina e a morbilidade e mortalidade intra-hospitalar e num seguimento clínico de 12 meses. Esta população de doentes foi dividida em quartis de concentração da hemoglobina ([Hb]): Q1: 1, e os preditores de mortalidade no follow-up foram: idade ≥ 69,5 anos, classe Killip na admissão> 1, diabetes mellitus, existência de depressão do segmento ST no ECG de admissão hospitalar e uma concentração de hemoglobina inferior a 10,8 g/dL. Discussão e conclusões: Em doentes com síndromes coronárias agudas, os valores mais baixos de hemoglobina encontram-se frequentemente associados a outras comorbilidades, mas por si só, a anemia parece ser um preditor independente de mortalidade um ano após uma síndrome coronária aguda. Abstract: Introduction: Anemia has been shown to be associated with a worse prognosis, especially higher mortality in various pathological conditions. However, few studies have specifically examined its impact in acute coronary syndrome (ACS) patients. The purpose of our study was to assess the association between different quartiles of hemoglobin on admission and short- and long-term prognosis in patients with ACS. Methods: We performed a retrospective analysis of 1303 consecutive ACS patients admitted to a coronary care unit and analyzed the association between baseline hemoglobin and morbidity and mortality, in-hospital and at 12-month follow-up. The population was divided into groups according to quartiles of hemoglobin concentration (Hb): Q1: 1 at admission. The independent predictors of long-term mortality were age ≥69.5 years, Killip class >1 at admission, diabetes mellitus, ST-segment depression on admission ECG and Hb <10.8 g/dl. Discussion and conclusions: Low baseline hemoglobin is associated with more comorbidities and can accurately predict 1-year mortality after an acute coronary syndrome. Palavras-chave: Síndromes coronárias agudas, Hemoglobina, Fatores de risco, Mortalidade, Prognóstico, Keywords: Acute coronary syndrome, Hemoglobin, Risk factors, Mortality, Prognosis