Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NO DIAGNÓSTICO E MANEJO DE INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA EM PACIENTES COM LINFOMA ANAPLÁSICO DE GRANDES CÉLULAS ALK1 POSITIVO: UM RELATO DE CASO E ANÁLISE DAS DIFICULDADES DIAGNÓSTICAS
Abstract
Introdução: Os linfomas anaplásicos de grandes células ALK1 positivo são linfomas não-hodgkin agressivos que acometem sobretudo, indivíduos jovens do sexo masculino. As manifestações clínicas costumam ser inespecíficas, tais como linfadenopatia, febre, perda de peso e suor excessivo, com o diagnóstico tardio, a doença avança. Nessa fase, o acometimento pulmonar pode ocorrer e evoluir com insuficiência respiratória grave. Num cenário de alta incidência de insuficiência respiratória provocada pelo coronavírus, a gestão de doenças e a capacidade dos sistemas de saúde para lidar com causas diversas dessa condição foi afetada. O objetivo deste trabalho é investigar como a pandemia de COVID-19 pode ter dificultado o diagnóstico e o manejo de insuficiência respiratória em um paciente com linfoma não-Hodgkin anaplásico, considerando as complexidades e desafios enfrentados durante o período pandêmico. Relato de caso: Descreve-se o caso de um paciente do sexo masculino, de 24 anos de idade, previamente hígido, sem histórico de tabagismo, etilismo, cirurgias ou transfusões sanguíneas, que apresentava linfadenopatia cervical, febre e perda de peso. Foi direcionado à infectologia, onde realizou testes para hepatite B e C, HIV e sífilis, todas negativas, e biópsia de linfonodo cervical que identificou linfoma de células grandes e lobuladas, padrão nodular, associado a infiltrado misto com frequentes eosinófilos. Após quatro meses do início do quadro, o paciente chegou à oncohematologia, onde realizou estudo imuno-histoquímico. Até que houvesse a emissão do laudo, transcorreram-se poucos dias, período no qual o paciente apresentou dispneia, febre e dor torácica ventilatório-dependente. No cenário mais crítico da pandemia de Covid-19, ele recebeu tratamento empírico para pneumonia causada pelo coronavírus e seguiu para investigação complementar, a qual revelou leucocitose às custas de neutrófilos, sem desvio à esquerda. A radiografia de tórax apontou um extenso derrame pleural no hemitórax direito, enquanto o swab de nasofaringe foi negativo para Covid-19. Por não haver melhora clínica, o paciente foi referenciado para o serviço de oncohematologia. O estudo do líquido pleural revelou neoplasia maligna indiferenciada. Logo em seguida, o laudo do estudo imuno-histoquímico outrora realizado, permitiu identificar que se tratava de linfoma de grandes células anaplásico ALK 1 positivo. Antes que se pudesse instituir o tratamento quimioterápico, o paciente evoluiu com insuficiência respiratória e óbito. Discussão: Diante de um cenário crítico como o da pandemia de Covid-19, a capacidade dos sistemas de saúde para lidar com casos complexos foi testada à exaustão. Percebe-se que a possibilidade de Covid-19 camuflou e atrasou o diagnóstico de acometimento pulmonar como consequência do linfoma de grandes células ALK 1 positivo, comproametendo a abordagem terapêutica. Conclusões: Assim, cabe a reflexão quanto à forma de gerir o sistema em relação a situações críticas de saúde. Pretende-se que haja uma melhor organização quanto a instituição de protocolos de tratamento em pacientes com neoplasias hematológicas, visando agilidade no atendimento e redução de desfechos graves, potencialmente evitáveis.