Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)
SÉRIE DE CASOS DE ESPOROTRICOSE HUMANA EM CONGLOMERADO FAMILIAR NA CIDADE DE BARBACENA-MG
Abstract
Introdução: A esporotricose é provocada pelo Sporothrix, um grupo fúngico composto por várias espécies. Uma mudança de hospedeiro permitiu a sobrevivência do patógeno em gatos domésticos, sendo o S. brasiliensis o principal agente de transmissão zoonótica no Brasil, a qual ocorre através do contato direto com lesões ulceradas dos animais infectados. A apresentação clínica é variada sendo a forma linfocutânea a mais comum. O diagnóstico definitivo se baseia na sorologia ou no isolamento do Sporothrix em cultura ou biologia molecular. O itraconazol é a terapia de escolha. O objetivo é descrever uma série de casos de esporotricose em um conglomerado familiar. Caso 1: 63 anos, feminino, se apresentou no ambulatório de infectologia de Barbacena-MG em 10 de novembro de 2022, com quadro de lesão ulcerada em mão esquerda com progressão para linfonodos cutâneos há 40 dias. Filho da paciente com histórico de tratamento para esporotricose linfocutânea em virtude de gato domiciliar ter falecido com esporotricose. Caso 2: 34 anos, feminino, em 17 de novembro de 2022, relatou lesão ulcerada em mão direita associada à linfonodomegalia regional de evolução de 30 dias. Residia em vizinhança com gatos confirmados para esporotricose e presença de parentes em tratamento para esporotricose (caso 1). Caso 3: 65 anos, feminino, em 25 de novembro de 2022, compareceu com histórico de lesões cutâneas disseminadas há 20 dias, após mordedura de gato em região distal do membro superior esquerdo. Relatava histórico de esporotricose em peridomicílio, inclusive contato com mesmo gato que havia falecido na descrição do caso 1. Foram realizadas sorologias e iniciado tratamento empírico com itraconazol 400mg/dia nos três casos, evoluindo com resolução das lesões após três meses. Comentários: A epidemia zoonótica fez da esporotricose doença de notificação compulsória em todo território nacional em 2020. A falta de um programa de controle da esporotricose felina aliada as dificuldades socioeconômicas e ambientais contínuas nas diferentes regiões do Brasil contribuíram para o aumento do número de casos em humanos e animais. A série de casos descrita corrobora com a crescente transmissão zoonótica da doença, três pacientes de uma mesma região domiciliar, com uma fonte comum de infecção. A vigilância epidemiológica produzindo educação sanitária é caminho para o diagnóstico precoce e consequente evolução favorável dos casos e do cenário endêmico da esporotricose no Brasil.