Cadernos de Saúde Pública (Mar 2018)
O acidente da plataforma de petróleo P-36 revisitado 15 anos depois: da gestão de situações incidentais e acidentais aos fatores organizacionais
Abstract
Resumo: O acidente com a plataforma P-36 na Bacia de Campos, Rio de Janeiro, Brasil, se configura como um dos grandes desastres internacionais da indústria do petróleo. Nosso objetivo na reflexão aqui empreendida é: (a) verificar, com base em um caso específico, a questão do papel que exerce a dimensão humana na confiabilidade de sistemas de elevada complexidade - com foco na gestão de situações incidentais e acidentais -, capazes de acarretar acidentes de grande magnitude. E, ao nos debruçarmos sobre tal intento, somos remetidos à necessidade de (b) dar visibilidade à interveniência de alguns dos fatores organizacionais como elementos que podem contribuir para agravar o grau de risco da atividade em plataformas offshore, conduzindo a análise para além das chamadas causas imediatas. No que tange aos métodos de investigação, tomamos por base, principalmente, a pesquisa documental (com destaque para os relatórios da Petrobras, ANP/DPC e CREA-RJ) e as interlocuções que mantivemos com três profissionais que atuaram na P-36. Os resultados indicam que a gestão das situações incidentais e acidentais, na qual se circunscrevem as tomadas de decisão em contextos emergenciais, deve se valer da contribuição que os trabalhadores podem agregar no sentido de apontar e discutir com os gestores certas lacunas do processo, por intermédio do compartilhamento e da flexibilização de decisões e da análise coletiva das situações de risco. Indicam também que determinados fatores organizacionais contribuíram para a ocorrência do sinistro, corroborando estudos nacionais e internacionais acerca de grandes acidentes, que apontam para a necessidade de mudança no enfoque adotado pela gerência das empresas do setor petrolífero.
Keywords