Angiologia e Cirurgia Vascular (Mar 2011)
Tratamento endovascular de lesões arteriais traumáticas Endovascular management of traumatic arterial injuries
Abstract
Introdução: As lesões arteriais traumáticas ocorrem em menos de 10% de politraumatizados e, nos países desenvolvidos, tem-se observado uma preponderância crescente de traumatismos vasculares iatrogénicos. Recentemente vários autores têm descrito a utilização de técnicas endovasculares com sucesso, pelo menor risco cirúrgico, em lesões de difícil acesso cujo tratamento convencional requer grande exposição cirúrgica, dificuldade técnica e mortalidade ou morbilidade apreciáveis. Os procedimentos endovasculares representam ainda uma alternativa terapêutica com menor mortalidade no tratamento de complicações crónicas de traumatismos vasculares, nomeadamente nos aneurismas pós-traumáticos do istmo aórtico (APTIA). Os autores apresentam uma série de doentes com lesões traumáticas arteriais diversas, em fase aguda ou crónica, tratados por via endovascular. Casos Clínicos: Sete doentes (21-77 anos), foram submetidos a tratamento endovascular de traumatismos vasculares na fase aguda ou crónica. Quatro doentes apresentavam lesões traumáticas agudas: 1 caso de rotura traumática do istmo aórtico (RTIA) em politraumatismo por acidente de viação; 1 caso de rotura da artéria subclávia (RAS) iatrogénica após tentativa de colocação de catéter de hemodiálise; 1 caso rotura de artéria renal (RAR) durante angioplastia/stent por doença renovascular; 1 caso de fístula arterio-venosa (FAV) da artéria renal intra-parenquimatosa iatrogénica após tumorectomia laparoscópica. Três doentes com complicações crónicas de traumatismos torácicos apresentavam falsos aneurismas do arco aórtico. Os doentes com roturas arteriais foram submetidos a exclusão endovascular com endoprótese e o doente com FAV renal foi submetido a embolização com coils. Os três doentes portadores de APTIA foram submetidos a: tratamento endovascular de aneurisma da aorta torácica (TEVAR)-1; “debranching” com bypass carótido-subclávio e TEVAR-2. Todos os procedimentos foram realizados com sucesso. Não se verificou mortalidade. No doente com RAS houve necessidade de cirurgia de descorticação pulmonar esquerda, por hematoma organizado, e o doente com FAV foi submetido com sucesso a nova embolização com coils por recorrência precoce de hematúria. Conclusão: O tratamento endovascular é, em casos seleccionados, uma alternativa válida e menos invasiva de lesões traumáticas complexas em regiões anatómicas de difícil acesso e morbi-mortalidade cirúrgica elevada.Introduction: Traumatic vascular injuries are present in less than 10% of patients with multi-organ trauma and, in western countries, the incidence of iatrogenic vascular lesions has been increasing. Conventional surgery in the approach of these lesions usually requires extended surgical exposure, presents increased technical challenges and has high morbidity and mortality. Recently, several authors have described the successful management of traumatic injuries with endovascular techniques with diminished surgical risk. Endovascular surgery has also been increasingly applied in management of chronic traumatic injuries like chronic post-traumatic thoracic aneurysms with significant improved outcomes. The authors present clinical cases with several acute and chronic traumatic vascular injuries treated with endovascular techniques, Clinical reports: Seven patients (21-77 years) with traumatic vascular injuries were treated. Four patients presented acute injuries: 1 case of traumatic aortic injury in a patient with multi-organ trauma after automobile crash; 1 case of iatrogenic subclavian artery rupture after inadvertent subclavian artery catheterization during attempted venous central access ; 1 case of iatrogenic renal artery rupture during renal angioplasty and stenting; 1 case of iatrogenic intra-renal arterio-venous fistula (AVF) after laparoscopic resection of a renal tumour. Three patients presented with chronic post-traumatic thoracic aneurysms. In the patients with arterial rupture endovascular exclusion with stentgrafts was performed and the renal AVF was managed with coil embolization. The chronic aortic aneurysms were managed with TEVAR with left subclavian artery exclusion and de-branching in two patients and TEVAR in one patient. Technical success was achieved in all patients. The patient with subclavian artery rupture was also submitted to lung decortication surgery for a organised hematoma, and the patient with the renal AVF presented with early recurrence of hematuria that was successfully managed with a endovascular re-intervention.