Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
TRIAGEM DE BIOFILMES COMO POTENCIAIS SUBSTITUTOS AO PLÁSTICO EMPREGADO NO ARMAZENAMENTO DE CONCENTRADOS DE HEMÁCIAS
Abstract
Introdução: Estima-se que sejam transfundidos 85 milhões de Concentrados de Hemácias (CH) anualmente. Atualmente o principal dispositivo de armazenamento de hemocomponentes é composto por poli(cloreto de vinila) (PVC), de matriz fóssil, com conhecidos riscos de toxicidade apesar de suas propriedades conservantes. Objetivo: Triar bioplásticos como alternativa ao PVC, com menor toxicidade e maior potencial sustentável. Materiais e métodos: Foram selecionadas 12 composições (blendas): biofilmes de amido de mandioca (concentrações de 0,250, 0,125 e 0,093 g/mL); glucomanana konjac (KGM), KGM combinada a sericina (do casulo do bicho da seda); fibroína da seda; acetato de celulose; poli(ácido lático) (PLA, extraído da cana de açúcar) em combinação a poli(butileno adipato co-tereftalato) (PBAT, sintético; proporções 45:55, 55:45 e 14:86) e biofilmes de PLA:PBAT 14:86+poli-limoneno (PLM, 5 e 10%), extraído da casca de laranja. Os materiais foram caracterizados por espectroscopia Raman (B&W Tek; New Jersey, EUA) e FTIR-ATR (Agilent; California, EUA), antes e após esterilização UV (40 minutos). CHs foram isolados de sangue periférico de 3 voluntários saudáveis (anticoagulante CPDA 1:9) que assinaram TCLE após aprovação do CEP/Unicamp (CAAE: 71037223.9.0000.5404). Os biofilmes foram expostos aos CHs por 24h, 4ºC para avaliação de hemólise (método de Harboe) e à análise microbiológica. Os dados foram comparados ao plástico PVC como controle. Resultados e discussão: Todos os materiais mantiveram suas características originais após a esterilização UV, exceto PLA:PBAT 55:45, que revelou transmitâncias diferentes nas regiões 722, 937, 1267, 1716 e 2958 cm−1 em FT-IR, indicando possíveis alterações estruturais decorrentes da exposição ao UV. Quanto à hemólise, não foram observadas diferenças significativas entre o controle e demais biofilmes, exceto os derivados de amido 0,125 g/mL e de KGM, com resultados significativamente maiores (4,01% de hemólise; p = 0,02, e 0,28%; p = 0,01). Salienta-se a redução do volume plasmático em amostras incubadas com as blendas de amido, o que potencialmente favoreceria a hemólise. Em biofilmes de fibroína da seda ou sericina houve a formação de coágulos. Os materiais com maior hemocompatibilidade foram as blendas de PLA:PBAT, mais hidrofóbicas (proporções 55:45; 14:86+5% PLM e 14:86+10% PLM), com hemólises médias de 0,08% 0,07% e 0,09%, respectivamente, bem como a blenda de acetato de celulose (0,19%). A esterilização foi eficaz em todos os filmes, exceto amido 0,125 g/mL, KGM+sericina e fibroína. As blendas PLA:PBAT e KGM mostraram-se estéreis anteriormente à esterilização. Discussão: Materiais naturais geralmente apresentam alta biocompatibilidade, baixa toxicidade e imunogenicidade reduzida. Os polímeros incluídos neste estudo têm sido estudados como scaffolds , implantes e sistemas de transporte de ativos, mas não como dispositivos para bolsas de sangue. Este é o primeiro estudo que busca bioplásticos para este fim. Nossos dados apontam que materiais mais hidrofóbicos são mais inertes e estáveis, capazes de prevenir a coagulação e a adsorção à superfície polimérica. Conclusão: Os biofilmes de PLA:PBAT+PLM apresentaram resultados mais promissores: menor hemólise, ausência de coágulos e potencialmente estéreis. Serão estudados na próxima fase, com maior tempo de incubação e avaliação de parâmetros bioquímicos.