Revista X (Oct 2018)

VOZES DO PROGRAMA EMERGENCIAL PRÓ-HAITI: NARRATIVAS DE RACIALIZAÇÃO DO “SER HAITIANO”

  • Ana Cecília Cossi Bizon,
  • Gabriel Vinícius Dangió

DOI
https://doi.org/10.5380/rvx.v13i1.61201
Journal volume & issue
Vol. 13, no. 1
pp. 168 – 191

Abstract

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O presente artigo tem como objetivo refletir sobre o processo de inserção de estudantes estrangeiros provenientes de países periféricos (WALLERSTEIN, 1974), no caso haitianos, no ambiente universitário brasileiro. Para tanto, como dados primários, são focalizados excertos de narrativas de dois estudantes do Programa Emergencial em Educação Superior Pró-Haiti, em uma universidade pública brasileira, geradas a partir de conversas informais audiogravadas. Tais narrativas topicalizam os sentidos produzidos pelas experiências de reterritorialização (HAESBAERT, 2004; BIZON, 2013) desses jovens ao longo de sua estadia no Brasil. Além disso, como dados secundários, considera-se um excerto de narrativa de uma jovem estadunidense negra participante de um programa de mobilidade em uma universidade federal brasileira. Acreditamos que a análise das narrativas dos estudantes haitianos na interface com a narrativa da jovem estadunidense seja potencialmente capaz de lançar luzes sobre particularidades dos processos de (re)territorialização de estrangeiros oriundos de países não centrais. A análise dos dados indica que processos de racialização (SILVERSTEIN, 2005; BUTLER, 2004; GALABUZI, 2006; BIZON & CAVALCANTI, 2018) experienciados pelos estudantes haitianos incidem fortemente em suas (re)territorializações. O imaginário socialmente articulado do que é ser haitiano, negro, estrangeiro, dentre outras identificações, é mobilizado nas relações que esses estudantes estabelecem nas diferentes práticas sociais nas quais se engajam, gerando percepções de discriminação e exclusão. Espera-se, com a visibilização dessas narrativas (WORTHAM, 2001; THREADGOLD, 2005; BAYNHAM & DE FINA, 2017), contribuir para a discussão de políticas de inserção no contexto de internacionalização de nossas universidades, as quais ainda privilegiam o diálogo com países centrais e atores hegemônicos.

Keywords