Revista de Estudos Literários da UEMS - REVELL (Feb 2020)
“Little Criminals of perception”: história e memória nos narradores de World’s Fair e The Book of Daniel, de E. L. Doctorow
Abstract
Os romances de E. L. Doctorow tocam pontos nevrálgicos da história norte-americana, sobretudo no Século XX. Em A Grande Feira (1985), o narrador nos leva, por suas memórias de infância, aos Estados Unidos do final da década de 30. Em O Livro de Daniel (1971), o narrador vasculha suas memórias de criança da Guerra Fria para reconstituir a genealogia de um desastre histórico. Nos dois casos, os narradores, Edgar e Daniel, vivem pelas mesmas ruas de Nova Iorque da infância de Edgar Lawrence Doctorow, o autor, e nelas se inquietam com os sinais de perigo que percebem debaixo da frágil casca de normalidade que os separa do abismo. Neste artigo, veremos alguns episódios de infância que são lidos pelo olhar de cada narrador como imagens eloquentes, alertas ou lições da história de seu tempo. Mediadas pela perspectiva do narrador adulto que as retoma e analisa, essas memórias de infância parecem compor, nos romances, um dispositivo narrativo que procura atar as duas pontas da História, integrando a experiência da criança, com sua percepção dos eventos em curso, à visão de conjunto do narrador adulto, que conhece os desdobramentos históricos daqueles eventos, para formar um só todo cognitivo, em que experiência, memória e análise se iluminam mutualmente.