Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
AVALIAÇÃO MULTIPROFISSIONAL EM PORTADORES DE MIELOMA MÚLTIPLO: IDENTIFICAÇÃO DE VULNERABILIDADES E DE SEU VALOR PROGNÓSTICO
Abstract
Objetivo: Descrever as vulnerabilidades encontradas na avaliação multiprofissional ao diagnóstico em portadores de mieloma múltiplo e analisar seu valor prognóstico. Materiais e métodos: Foram avaliados pela enfermagem, nutrição, psicologia, serviço social e estomatologia como parte da Linha de Cuidado em Mieloma Múltiplo todos os pacientes que iniciaram tratamento de primeira linha entre out/2020 e out/2023 em um serviço privado de Belo Horizonte/MG. Foram aplicados o escore de fragilidade do IMWG – composto por idade, atividades básicas e instrumentais de vida diária (ADL e IADL, respectivamente) e escore de comorbidade de Charlson - avaliação subjetiva global (ASG-PPP), termômetro de distress e a escala hospitalar de ansiedade e depressão. Resultados: Na análise, n = 99 pacientes iniciaram tratamento no período, com mediana de idade de 67 (IIQ 57-77) anos e predomínio do sexo feminino (56,6%). O estádio ISS 3 (33,3%) foi o mais frequente. A maioria (88,9%) recebeu terapia com 3 drogas incluindo bortezomibe e um imunomodulador ou alquilante e 38 (38,4%) foram submetidos a transplante autólogo de medula óssea (TMO). O escore de fragilidade do IMWG foi aplicado em 98 pacientes, sendo 42 (42,9%) considerados fit (escore 0), e 56 (57,1%) intermediário/frágil (unfit, escore ≥ 1), respectivamente. Os unfit foram mais frequentes no grupo não submetido a TMO (67,2% vs 40,5%; p = 0,012). Quanto aos componentes do escore do IMWG, foram identificadas alterações em ADL (≤ 4 pontos) e em IADL (≤ 5 pontos) em 13 (13,7%) e 43 (45,7%) pacientes, respectivamente. Além disso, 7 (7,3%) apresentaram escore de Charlson ≥ 2. Risco nutricional foi evidenciado em 41 (41,8%) participantes com escore ≥ 4 pelo ASG-PPP, sendo mais frequente entre os unfit (56,4% vs. 23,4%; p = 0,002). Distress significativo (≥ 4) foi identificado em 25 (28,7%), ansiedade (> 8 pontos) em 9 (10,3%) e depressão (> 8 pontos) em 9 (10,3%), sem diferença entre os grupos fit e unfit. A mediana de acompanhamento foi de 24 meses e a sobrevida global estimada em 2 anos, de 83,4%, com mediana não atingida. Não houve diferença sobrevida entre aqueles submetidos ou não a TMO (p = 0,134). O grupo de pacientes fit apresentou maior sobrevida global (mediana não atingida vs 41 meses; p = 0,026), o mesmo ocorrendo para aqueles sem prejuízo nas atividades básicas ou instrumentais de vida diária (p < 0,001 e p = 0,037, respectivamente). Discussão: O mieloma múltiplo é a neoplasia hematológica mais comum e afeta principalmente idosos. O processo de envelhecimento não é refletido apenas pela idade cronológica e pode acarretar alterações na funcionalidade. Somado a isso, a própria doença também impacta negativamente em vários domínios da saúde do paciente. Nesta coorte, a avaliação multiprofissional, além de factível, revelou-se ferramenta importante, a fim mapear as vulnerabilidades do paciente, permitindo a elaboração de plano de cuidado personalizado. Entre as vulnerabilidades, destaca-se a alta prevalência de risco nutricional. Além disso, o escore de fragilidade do IMWG teve seu valor prognóstico confirmado, reafirmando-se como ferramenta de triagem. Conclusão: A avaliação multiprofissional ao diagnóstico mostrou-se factível e capaz de revelar vulnerabilidades dos pacientes portadores de mieloma múltiplo. Além disso, comprovou-se o valor prognóstico do escore do IMWG em uma coorte brasileira.