Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE A MUCOSITE ORAL E ANÁLISES PROTEÔMICAS SALIVARES DE PACIENTES SUBMETIDOS AO TRANSPLANTE ALOGÊNICO DE CÉLULAS-TRONCO HEMATOPOIÉTICAS
Abstract
Introdução: A mucosite oral (MO) é uma das principais complicações durante o transplante alogênico de células hematopoiéticas (alo-TCH). A proteômica tem sido utilizada como preditiva de risco e prognóstico para diferentes eventos fisiopatológicos, o seu estudo em saliva relacionado à MO ainda é incipiente. Objetivo: Avaliar a expressão de proteínas em saliva de pacientes submetidos ao alo-TCH relacionada à gravidade de MO. Métodos: Estudo longitudinal prospectivo com pacientes submetidos ao primeiro alo-TCH. A coleta de saliva foi realizada imediatamente antes do início condicionamento (T0) e a cada dois dias até a enxertia neutrofílica. A coleta do dia de pior grau de MO apresentada pelo paciente foi considerada como T1, para os pacientes que apresentaram MO grau 0 (escala OMS), foi utilizada a coleta entre os dias D+7 e D+10. Os pacientes foram divididos em dois grupos: I) sem MO (s-MO: grau 0); II) com MO grave (c-MO grave: graus 3 e 4). As amostras foram submetidas a análise proteômica por Espectrometria de Massas. Resultados: Foram incluídos 20 pacientes, média de idade do grupo s-MO foi de 27,6 anos (± 9,64) e o grupo com c-MO grave de 26,5 anos (± 11,41). A maioria dos pacientes foram do sexo masculino. Em T0, observou-se maior expressão de imunoglobulinas (IgG cadeia I região C: 0,252583; p = 0,000285) e da proteína BPI (0,281982; p = 0,006514) no grupo s-MO. Os pacientes c-MO grave apresentaram maior concentração de proteínas relacionadas ao estresse oxidativo e diferenciação de células epiteliais, como a aldeído desidrogenase (8,282509; p=0,020668) e a fosfoglicerato quinase (2,036123; p = 0,041985), respectivamente. Em T1, as proteínas peptidil-prolil cis-trans isomerase A (0,175346; p = 0,00511), proteína de ligação à fosfatidiletanolamina 1 (0,159093; p = 0,010852) e a BPI (0,153385; p = 0,044646) foram mais abundantes em paciente s-MO. O grupo c-MO grave apresentou maior expressão de fibrinogênio (21,88776; p = 0,00147), haptoglobina (7,394552; p = 0,000304) e alfa-2-macroglobulina (5,333237; p = 0,003314). Na análise de cluster , em T0 para os dois grupos houve a formação de dois clusters e em T1 não houve a formação de cluster específico. Discussão: Os pacientes que não desenvolveram MO apresentaram maior expressão de proteínas relacionadas à imunidade inata e adaptativa, enquanto os pacientes com MO grave tiveram maior expressão de proteínas relacionadas ao processo de desenvolvimento das células epiteliais. Em T1, os pacientes do grupo c-MO grave tiveram maior quantidade de proteínas relacionadas a imunidade inata e ação antibacteriana e o grupo s-MO grave teve maior quantidade de proteínas relacionadas a manutenção do epitélio. Conclusão: Este estudo inédito em alo-TCH identificou uma maior abundância de proteínas relacionadas à resposta imune no grupo s-MO e de proteínas associadas à atividade antimicrobiana e modulação da resposta inflamatória no grupo com c-MO grave. Esses achados sugerem alvos potenciais para avaliação de risco e/ou estratégias terapêuticas para MO no cenário alo-TCH.