Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
ANÁLISE DE SOBREVIDA EM PACIENTES COM MIELOMA MÚLTIPLO EM SERVIÇO DE REFERÊNCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Abstract
Introdução: O mieloma múltiplo (MM) é um câncer decorrente da proliferação clonal de plasmócitos na medula óssea. Com os tratamentos disponíveis atualmente foi possível aumentar a sobrevida dos pacientes, mas os desfechos clínicos permanecem divergentes em diferentes regiões. Há pouca informação sobre tratamentos, sobrevida e perfil dos pacientes com MM no Brasil. Objetivo: Realizar análise de sobrevida em pacientes com MM do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. Metodologia: Coorte retrospectiva com coleta em prontuário de dados demográficos e clínicos de pacientes com MM atendidos entre 2010 e 2022. Avaliadas sobrevida global (SG) e livre de progressão (SLP) com a curva de Kaplan-Meier, teste log-rank e análise de regressão de Cox. Resultados: Amostra com 99 pacientes (49 homens); mediana de 64 anos ao diagnóstico (40 a 89); subtipos: IgG 54,5%, IgA 17,2%, cadeia leve 23,2% e sem informação 5,1%; estadiamento International Staging System (ISS): I 10%, II 34%, III 38% e sem dados 17%. Em 1ªlinha, 66,7% receberam bortezomibe, ciclofosfamida e dexametasona (VCD), 77,9% receberam protocolos com bortezomibe. Em 2ªlinha ou posterior, 15% daratumumabe e 6% carfilzomibe. SG mediana foi de 77 meses (IC95%: 42,3 - 111,6) e a SLP de 27 meses (IC95%: 16,5 - 37,4). Atingiram resposta completa 12,1%, resposta parcial muito boa 20,2% e sem dados de resposta em 43,4%. Submetidos a transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas (TCTH) 30,3% dos pacientes, com SG e SLP de 117 e 54 meses respectivamente. No grupo não submetido a TCTH, a SG e SLP foram de 70 e 21 meses com p = 0,026 e <0,0001 respectivamente. Apresentaram significância para SG o número de ciclos na 1ªlinha com HR 0,67 (IC95% 0,53-0,86, p = 0,002) e o TCTH com HR 0,11 (IC95% 0,33-0,39, p = 0,001). O subtipo do MM e ISS não influenciaram a SG e SLP. Discussão: O MM representa cerca de 15% das malignidades hematológicas, mais incidente em idosos acima de 60 anos. Após 16 anos do uso do bortezomibe, os estudos demonstraram melhora em sobrevida com segurança, portanto essa droga é utilizada em diversos protocolos. A SG em estudos varia de 61 a 67 meses e a SLP varia de 31 a 38 meses, com as maiores taxas encontradas em esquemas com bortezomibe. A maioria dos pacientes deste estudo receberam em 1ª linha regimes com bortezomibe. Estudo MMyBRAve (Brasil), de pacientes diagnosticados entre 2008 a 2016, demonstrou SG de 70 meses, o presente estudo demonstrou SG de 77 meses, que pode ser atribuído à incorporação de novos agentes à 1ªlinha de tratamento. Sabe-se que os imunomoduladores e os inibidores de proteassoma associados ao TCTH melhoraram a sobrevida, entretanto o TCTH não é uma opção viável em aproximadamente 75% dos casos, seja devido à idade, comorbidades ou indisponibilidade nos serviços. Atualmente, apesar de se questionar o papel do TCTH, este permanece como padrão terapêutico para os pacientes elegíveis. Neste estudo, ambas SG e SLP foram maiores com TCTH e, divergindo da literatura, o ISS não influenciou a sobrevida, o que pode ser explicadopelo tamanho e falta de dados do estadiamento em 17% da amostra. Conclusão: O tratamento do MM permanece heterogêneo a depender da disponibilidade das drogas, portanto estudos de vida real, como o apresentado, são importantes para melhor caracterização clínica quanto às respostas e desfechos em diferentes serviços.