Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

RELATO DE CASO: LEUCEMIA LINFOCÍTICA AGUDA COM HIPERCALCEMIA

  • MF Pereira,
  • LM Prestes,
  • IM Almeida,
  • LM Pinheiro,
  • LF Proença,
  • MFGM Fernandes,
  • MS Klaus,
  • NB Zeni,
  • PSS Pilau,
  • CF Diefenbach

Journal volume & issue
Vol. 46
pp. S347 – S348

Abstract

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Introdução: A Leucemia Linfocítica Aguda (LLA) consiste na proliferação exacerbada de células B ou T imaturas, cujo clone maligno origina-se na medula óssea ou no sistema linfático. Os sintomas clássicos decorrem da infiltração medular por células neoplásicas e pela supressão de linhagens hematopoiéticas. No entanto, complicações raras como a hipercalcemia secundária a LLA podem ocorrer. Relato de caso: Paciente masculino, 58 anos, encaminhado para avaliação hematológica devido à plaquetopenia severa. Em abril de 2024, apresentou febre intermitente e tremores, sendo diagnosticado com dengue na UBS de Santa Rosa-RS, com contagem plaquetária de 87.000/μL. O tratamento foi com manejo sintomático. Em maio, retornou com adinamia, fraqueza, dor torácica, perda de peso e dor lombar, associadas a plaquetopenia (57.000/μL) e anemia severa (Hb 6,0 g/dL), necessitando de hidratação intravenosa e transfusão de hemácias. Após alta hospitalar, o paciente retornou apresentando dispneia, dor torácica, palidez, melena e inapetência. Uma endoscopia digestiva alta revelou úlceras e gastrite, tratadas com pantoprazol. Com a persistência dos sintomas, foi readmitido em junho no Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo (HCAA) com piora da anemia e plaquetopenia (33.000/μL), além de adenopatia cervical bilateral ao exame físico, recebendo nova transfusão de hemácias. Durante esta internação, foi diagnosticada hipercalcemia secundária, com níveis séricos alcançando 11,5 mg/dL. Durante o período de investigação hematológica no HCAA, a análise da medula óssea revelou uma população clonal de linfócitos B com imunofenótipos aberrantes. O paciente também apresentou perda de peso, totalizando 17 kg durante o período. Iniciou-se então o esquema de quimioterapia de indução HYPER-CVAD e Pamidronato 90 mg EV para redução da carga tumoral e correção da hipercalcemia. Atualmente, no 14° dia de indução do tratamento, o paciente apresenta pancitopenia severa (Leucócitos 100 e 10% de blastos), sem febre, com diminuição das adenopatias cervicais. Discussão: A hipercalcemia na LLA é um evento raro, possivelmente decorrente da produção ectópica de proteínas relacionadas ao paratormônio (PTHrP) pelas células leucêmicas, aumento da reabsorção óssea e liberação de cálcio, ou secreção de citocinas que estimulam os osteoclastos. Em adultos, a incidência de LLA é menor, com um aumento gradual em idosos. A hipercalcemia também é uma complicação rara na LLA e associada a um prognóstico desfavorável. A hipercalcemia no sistema neurológico, pode causar confusão mental, letargia e, em casos mais severos, coma. No trato gastrointestinal, provoca náuseas, vômitos, constipação, dor abdominal e anorexia. Nos rins, a sobrecarga renal pode resultar em nefrocalcinose e insuficiência renal aguda e, também, causar sintomas como poliúria e polidipsia. No sistema cardiovascular, pode resultar em hipertensão, arritmias e redução da contratilidade miocárdica. O sistema musculoesquelético pode apresentar dor óssea intensa e muscular, além de aumento do risco de osteoporose e fraturas. Outros sintomas menos comuns, mas ainda relevantes, incluem prurido e alterações no humor, como depressão e ansiedade. Essas manifestações adicionais ressaltam a complexidade e a gravidade da hipercalcemia em pacientes com LLA. Conclusão: A hipercalcemia na LLA é uma complicação rara e grave, exigindo diagnóstico e tratamento rápidos para evitar danos sistêmicos severos e potencialmente fatais.