Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2021)

LINFOMA DE HODGKIN NA GESTAÇÃO: SÉRIE DE CASOS

  • CFM Silva,
  • ACA Silveira,
  • NCC Oliveira,
  • KPU Turon

Journal volume & issue
Vol. 43
p. S57

Abstract

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Introdução: O linfoma de Hodgkin é a neoplasia hematológica mais diagnosticada na gestação uma vez que seu pico de incidência coincide com período fértil feminino. Não existe um consenso a respeito do melhor tratamento nesse período, porém a maioria dos autores sugere que o ABVD no 2°e 3° trimestres é um tratamento eficaz e seguro, já sua segurança no primeiro trimestre é controversa. É consenso que o tratamento seja individualizado, conduzido por uma equipe multidisciplinar para segurança da gestante e feto. Objetivo: relato de caso de duas gestantes e uma puérpera com doença de Hodgkin clássico tratadas pelo serviço de hematologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. Caso 1: MGSC, 39 anos, puérpera, admitida no serviço após biópsia de linfonodo em região cervical, histopatológico com laudo de linfoma de Hodgkin clássico. Após PET CT e exames o estadiamento foi IV B. Foi optado por realizar 6 ciclos de ABVD e cessar a amamentação. A paciente está no 3°ciclo com reposta clínica parcial. Não foi possível realizar PET interim. Caso 2: MTSS, 34 anos, gestante de 33 semanas, admitida no serviço após biópsia linfonodal com histopatológico compatível com linfoma de Hodgkin clássico estádio IIB desfavorável. O estadiamento foi realizado por RM e biópsia de medula óssea. A paciente evoluiu com piora sintomática e foram iniciados dexametasona e vinblastina. Após 2 doses houve melhora dos sintomas. Submetida a parto cesáreo, sem intercorrências e em sequência, iniciado primeiro ciclo de ABVD. Encontra-se no 2°braço do 2°ciclo de ABVD, com redução de mais de 50% dos linfonodos. Caso 3: CMLAP, 34 anos, gestante de 8 semanas admitida após biópsia ganglionar compatível com linfoma de Hodgkin clássico. Após RM e biópsia de medula óssea, o estadiamento foi IIA desfavorável. Optou-se por conduta expectante, mas após 14 semanas evolui com quadro de tosse seca, dor torácica e ortopneia, sendo iniciada vimblastina. A partir do 2° trimestre de gestação, iniciou-se tratamento com ABVD. No momento, está na 25ª semana gestacional com boa tolerância a quimioterapia, sem linfonodomegalias ao exame e desenvolvimento fetal normal. Discussão: As manifestações clínicas não diferem entre gravidas e não gravidas, porém, a condução do caso tem suas particularidades. O estadiamento das pacientes gestantes foi realizado através de ressonância magnética e biópsia de medula óssea para evitar a exposição a radiação do PET-TC. O regime de quimioterapia escolhido foi o ABVD a partir do 2° trimestre. A vimblastina como agente isolado foi utilizado nas gestantes com evidência de progressão da doença. Conclusão: não existe um consenso no tratamento do linfoma de Hodgkin em gestante. As evidências de eficácia e segurança são baseadas em publicações de séries de caso. O objetivo do tratamento é curativo e o esquema ABVD parece seguro no 2°e 3° trimestres. A quimioterapia deve ser evitada no 1° trimestre quando há a organogênese fetal. O estadiamento deve ser feito preferencialmente por RM. Nos casos, a primeira paciente recebeu o tratamento padrão e a única restrição foi a não amamentação, a segunda paciente recebeu vimblastina isolada, sem resposta, mas como estava em final de gestação foi possível adiantar o parto para o início do ABVD. No terceiro caso, houve progressão da doença a despeito da vimblastina e foi optado por iniciar ABVD no 2° trimestre.