Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
SÍNDROME MIELODISPLÁSICA SECUNDÁRIA A TERAPIA COM MUTAÇÃO TP53 APÓS TRATAMENTO DE MIELOMA MÚLTIPLO – RELATO DE CASO
Abstract
Introdução: A síndrome mielodisplásica secundária a terapia (SMDt) constitui cerca de 10-20% de todas as síndromes mielodisplásicas (SMD) e tende a apresentar sobrevida global inferior devido a características como alterações citogenéticas e mutações de alto risco. Devido ao aumento significativo do arsenal terapêutico contra diversos tipos de neoplasia, observa-se um aumento global da sobrevida de pacientes oncológicos, tornando a SMDt cada vez mais prevalente. Dentre as neoplasias hematológicas, as doenças plasmocitárias apresentam um risco médio de 2,6% de evolução para SMD ao ano. O transplante de células tronco hematopoiéticas alogênico (TCTHalo) é a única terapia com potencial curativo para pacientes com mutação TP53. Objetivo: Descrever dois casos de SMDt com mutação TP53 em pacientes expostos a tratamento para mieloma múltiplo. Material e métodos: Relato de casos descritivo, retrospectivo e observacional realizado a partir de dados obtidos por meio da análise do prontuário eletrônico. Resultados: Caso 1: Paciente do sexo feminino, 69 anos, mieloma múltiplo (MM) IgA Kappa, ISS IIIB. Tratada com o protocolo VCD por 4 ciclos, seguido de Transplante de células tronco hematopoiéticas autólogo (TCTHauto), regime de condicionamento (RC) Melfalano 140 mg/m2. Após o TCTHauto, a paciente realizou mais dois ciclos de VCD, seguido de manutenção com lenalidomida por 6 meses, sendo suspenso por mielotoxicidade. A paciente evoluiu com progressão bioquímica 5 anos após o TCTHauto, sendo optado pelo esquema DRD. Após 6 ciclos, a paciente apresentou mielotoxicidade e piora da função renal, levando à suspensão da lenalidomida e manutenção de daratumumabe e dexametasona. Três meses após a suspensão da lenalidomida, a paciente mantinha citopenias e piora da função renal. A avaliação medular evidenciou medula óssea com hiperplasia eritroide; imunofenotipagem sem população anômala; FISH e cariótipo sem alterações; e painel NGS com mutação missense do TP53 c.713G>T (VAF 17%), suportando o diagnóstico de SMDt, IPSS-R 2,5 (baixo), IPSS-M 1,97 (muito alto). A investigação nefrológica revelou nefrite intersticial crônica. A paciente continuou o uso do esquema Dara-Dex por 21 ciclos, mantendo estabilização do quadro de MM. Foi decidido pela realização de TCTHalo haploidêntico. Caso 2: Paciente do sexo masculino, 59 anos, MM cadeia leve lambda, RC Melfalano 200 mg/m2. Após 2 anos, apresentou recaída com fraturas em costelas e em vértebra (C6), iniciando resgate com protocolo Rd por 2 ciclos, posteriormente trocado para KCd, que realizou por 8 ciclos, seguido de manutenção com lenalidomida por 12 meses, sendo suspendo após por mielotoxicidade. Paciente manteve citopenias por 5 meses. Realizada avaliação medular, sendo diagnosticado SMD com componente de fibrose associado. FISH com del5 e del7, NGS com presença de 2 mutações missense em TP53 c.757A>C (VAF 26,6%) e c.838A>G (VAF 23,9%). IPSS-R 6,0 (alto), IPSS-M 2,59 (muito alto). Sendo encaminhado para TCTHalo aparentado HLA idêntico. Conclusão: Estes casos demonstram a complexidade e os desafios no manejo de pacientes com SMDt associada à mutação TP53 após tratamento para mieloma múltiplo. A mutação TP53 está correlacionada com uma pior sobrevida global, sendo o TCTHalo a única terapia com potencial curativo para este subgrupo de pacientes. Estudos prospectivos com coortes maiores e padronização de metodologias são necessários para melhor compreender o prognóstico e os desfechos clínicos da SMDt.