Studia Iberystyczne (Dec 2022)

Camões e a globalização da Língua Portuguesa

  • Manuel Ferro

DOI
https://doi.org/10.12797/SI.21.2022.21.12
Journal volume & issue
Vol. 21

Abstract

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Partindo do poema “Inês de Leiria” de Afonso Lopes Vieira, por sua vez inspirado no capítulo 19 da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, ali se relata uma das aventuras deste autor no interior da China em pleno século XVI: o encontro com uma chinesa que reza “Padre Nosso que estais nos céus…”, a única coisa que sabe do Português, mas que é o suficiente para surpreender o viajante e lhe permite um inesperado contacto com a língua materna. É verdade que na época se tinha superado a fase de evolução da língua a partir do latim vulgar, passando pela fase inicial de formação do romance e, depois, do galaico-português, com a consequente separação do Galego e do Português. O século XVI foi uma época de oiro, de sistematização, enriquecimento e exaltação da Língua Portuguesa, mediante os contributos da generalidade dos escritores e, muito em particular, de António Ferreira e Luís de Camões, de modo a criar-se uma norma linguística. O idioleto de Camões tornou-se de tal modo modelar que foi reconhecido nos séculos seguintes pelos gramáticos, teorizadores e críticos como padrão, ao mesmo tempo que o Poeta se arvorava em símbolo máximo da identidade nacional. Em paralelo, graças às viagens e contactos com outras terras, povos e culturas, lançam-se as bases do Português como língua de contacto a nível global, antecipando- se na modernidade a consciência nacional duma comunidade de países de expressão portuguesa, e surgindo do intercâmbio com os povos nativos os crioulos e pidgins, além da presença inesperada da nossa língua em horizontes geográficos e linguísticos variados, pelo que se constituiu em simultâneo e em Português o maior banco de dados da primeira grande experiência de globalização do mundo conhecido.

Keywords