Tempo Social (Jan 2009)

Financeirização de esquerda? Frutos inesperados no Brasil do século XXI Leftist financialization? Unexpected outcomes in 21st century Brazil

  • Roberto Grün

DOI
https://doi.org/10.1590/s0103-20702009000200008
Journal volume & issue
Vol. 21, no. 2
pp. 153 – 184

Abstract

Read online

Diversos episódios e evoluções recentes mostram a adesão de setores tradicionais e novos das elites brasileiras ao predomínio das finanças e de suas razões na sociedade brasileira. A partir da análise do engendramento e da difusão da governança corporativa e dos fundos de private equities na acepção que elas vêm ganhando no Brasil, podemos mesmo falar de convergência das elites em torno dos mecanismos criados para a medição financeira, ainda que o resultado ocorra por meio de um alargamento de sua polissemia. Esses mecanismos, para cá trazidos no intuito explícito de acelerar e facilitar a integração das empresas brasileiras ao espaço e à lógica que impera nos mercados financeiros, avançam rapidamente, mas acabam recebendo um significado menos hardcore do que os financistas esperam. Ainda que deploráveis para os financistas ortodoxos, esses resultados dificilmente surpreenderiam um cientista social treinado. É por intermédio da polissemia que as abóboras se ajeitam na carroça da sociedade em movimento. A análise desse diálogo social produzido em torno das questões financeiras se torna assim uma excelente janela para a compreensão não só das disputas econômicas, mas também das disputas políticas que sacodem a sociedade brasileira contemporânea.Various recent episodes and evolutions demonstrate how both traditional and new sectors of the Brazilian elite have embraced the dominance of finance and its logic in Brazilian society. An analysis of the creation and diffusion of corporate governance and private equity funds - in the sense these have acquired in Brazil - allows us to identify a convergence of the country's elite sectors in terms of the mechanisms created for financial measurement, although this outcome stems from a broadening of their polysemy. Explicitly introduced into Brazil to accelerate and facilitate the integration of Brazilian companies in the space and prevailing logic of financial markets, these mechanisms are making rapid advances, but are given a less hardcore meaning than the kind expected by financial experts. Though deplorable for more orthodox financial specialists, such an outcome is unlikely to surprise a trained social scientist. It is through polysemy that, as the Brazilian saying goes, "the pumpkins sort themselves out on the cart" formed by a society continually in transit. Analysis of the social dialogue surrounding financial issues therefore provides an excellent window for comprehending not only the economic disputes but also the political disputes agitating contemporary Brazilian society.

Keywords