Revista da SBEnBIO (Dec 2018)

2018, um ano que clamou por resistência, perseverança e luta – Balanço de nosso primeiro ano à frente da SBEnBio

  • Marcia Serra Ferreira,
  • Silvia Chaves,
  • Maria Luiza Gastal,
  • Antonio Carlos Amorim

DOI
https://doi.org/10.46667/renbio.v11i2.197

Abstract

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2018, um ano que clamou por resistência, perseverança e luta – Balanço de nosso primeiro ano à frente da SBEnBio Neste último número de 2018 da Revista de Ensino de Biologia, editada em um momento tão conturbado e difícil para o Brasil, gostaríamos de renovar as esperanças fazendo um breve balanço de nossas primeiras ações à frente da Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBEnBio). Ao iniciar a nossa gestão em janeiro deste mesmo ano, assumimos a direção nacional da SBEnBio com grandes expectativas e muita disposição para o enfrentamento dos inúmeros desafios que vinham se apresentando. Afinal, como todes sabem, temos sofrido em nosso país uma série de ataques ao pensamento e ação democráticos, com fortes desdobramentos para as escolas, seus currículos, professores e estudantes. No caso do ensino de Biologia, temos sido especialmente interpelados pelo fato de divulgarmos conhecimentos que nos fazem problematizar o senso comum sobre a espécie humana e a natureza, ao mesmo tempo em que, como parte dos saberes socialmente legitimados, as Ciências Biológicas podem nos auxiliar no questionamento das estruturas que produzem e sustentam, historicamente, as desigualdades sociais, raciais, étnicas e de gênero em nosso país. É com esse entendimento sobre o papel e a função social do ensino de Biologia que temos conduzido as nossas ações na SBEnBio. Em estreita parceria com as diretorias regionais, temos nos empenhado em produzir modos de resistência e estratégias de luta para o enfrentamento de movimentos antidemocráticos e reacionários que insistem em censurar e pautar os currículos da educação básica, assim como a formação e o trabalho docente. Como parte desse processo, organizamos com a Regional 6 o VII Encontro Nacional de Ensino de Biologia, ocorrido em setembro último na Universidade Federal do Pará, pondo em cena temáticas e abordagens que questionam e problematizam formas ‘naturalizadas’ de ser e de estar no mundo, colocando os conhecimentos biológicos a serviço da democracia, do combate às desigualdades e do reconhecimento às diferenças. Na ocasião, reunidos em assembléia, pudemos manifestar coletivamente o nosso repúdio às recentes políticas curriculares voltadas para o engessamento e o controle da educação básica e da formação de professores no país, entendendo que as mesmas ferem a autonomia das instituições de ensino e seus sujeitos. Também nesse momento, pudemos nos solidarizar com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) pelo incêndio ocorrido em 2 de setembro de 2018 no Museu Nacional, manifestando o apoio irrestrito da SBEnBio na luta pela reconstrução desse inestimável patrimônio de toda a sociedade brasileira. Em meio a duros e crescentes golpes à democracia brasileira, viemos nos unindo a diversas outras entidades ligadas à área da Educação – tais como a Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (ABRAPEC), a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), a Associação Brasileira de Currículo (ABdC), a Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE) e o Fórum Nacional de Diretores de Faculdades, Centros de Educação ou Equivalentes das Universidades Públicas Brasileiras (FORUMDIR) –, com vistas a ampliarmos a nossa voz e a nos fortalecermos na luta contra essas políticas educacionais que vieram sendo anunciadas e/ou implantadas ao longo do ano de 2018. Foi em tal movimento, por exemplo, que nos posicionamos frontalmente contra qualquer ideia de centralização normativa dos currículos – seja no ensino superior, seja na educação básica –, com vistas a impor um único modo de pensar o papel da escola e o oficio docente em uma sociedade que se quer plural e democrática. Foi também nele que criticamos ainda mais duramente os movimentos reacionários que tentam pautar os nossos currículos, buscando censurar conhecimentos supostamente ideológicos. Iniciaremos o próximo ano, portanto, ainda mais fortes e decididos a lutar por uma educação laica, livre e sem mordaças. No ensino de Biologia, seguiremos defendendo a abordagem de temáticas tradicionais em nossa área e dela constitutivas – tais como evolução, gênero e sexualidade, para dar alguns exemplos – que nos ajudem tanto a problematizar o senso comum e o reino das opiniões pré-formadas quanto a lutar por uma sociedade menos desigual e mais diversa, que valorize as singularidades e as diferenças. Isso significa que, ao lado das instituições e entidades democráticas do Brasil, a SBEnBio seguirá firme no enfrentamento de todas as políticas que visam, há um só tempo, o desmonte da educação pública, gratuita e referenciada socialmente, a negação do direito de todes ao ensino superior e à educação básica de qualidade, a criminalização do pensamento livre e o silenciamento de professores, pesquisadores e estudantes. Sabemos que coletivamente somos mais fortes, então seguimos de mãos dadas com todes vocês que constroem, cotidianamente, o ensino de Biologia em nosso país. Que venha 2019! Marcia Serra Ferreira[1] Silvia Chaves[2] Maria Luiza Gastal[3] Antonio Carlos Amorim[4] [1] (UFRJ) Presidente da Diretoria Executiva Nacional da SBEnBio [2] (UFPA) Vice-presidente da Diretoria Executiva Nacional da SBEnBio [3] (UNB) Secretária da Diretoria Executiva Nacional da SBEnBio [4] (UNICAMP) Tesoureiro da Diretoria Executiva Nacional da SBEnBio