Revista Portuguesa de Cardiologia (May 2014)

Terapêutica de ressincronização cardíaca e efeito pró‐arrítmico: um problema que deve ser lembrado

  • Nuno Cabanelas,
  • Mário Oliveira,
  • Manuel Nogueira da Silva,
  • Pedro Cunha,
  • Bruno Valente,
  • Ana Lousinha,
  • Sofia Santos,
  • Luísa Branco,
  • Rui Ferreira

Journal volume & issue
Vol. 33, no. 5
pp. 309.e1 – 309.e7

Abstract

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Resumo: Os benefícios demonstrados com a terapêutica de ressincronização cardíaca (TRC) na redução da mortalidade e hospitalização por ICC, melhoria da classe funcional e obtenção de remodelagem inversa em doentes selecionados com insuficiência cardíaca (ICC), têm contribuído para a crescente utilização destes dispositivos na prática clínica.No entanto, permanece controverso o impacto da TRC como fator causador de arritmias ventriculares complexas. Apresentamos o caso duma doente com cardiopatia valvular operada, disfunção sistólica grave e ICC classe III da NYHA, com terapêutica médica otimizada, sem documentação prévia de arritmias ventriculares significativas. Após implantação do sistema de TRC com cardioversor‐desfibrilhador, desenvolveu quadro de tempestade arrítmica com múltiplos episódios de taquicardia ventricular monomórfica (TV) e necessidade de 12 choques, mantendo padrão de bigeminismo ventricular reprodutível e indução de salvas de TV pelo pacing biventricular. Dada a inacessibilidade a outra veia tributária do seio coronário foi decidido implantar elétrodo epicárdico em localização diferente (de veia póstero‐lateral para posição lateral‐mediana), sem registo de recorrência de arritmias num follow‐up de seis meses. Este caso sugere que a TRC pode contribuir para um efeito pró‐arrítmico com consequências clínicas potencialmente graves. Abstract: The demonstrated benefits of cardiac resynchronization therapy (CRT) in reducing mortality and hospitalizations for heart failure, improving NYHA functional class and inducing reverse remodeling have led to its increasing use in clinical practice. However, its potential contribution to complex ventricular arrhythmias is controversial.We present the case of a female patient with valvular heart failure and severe systolic dysfunction, in NYHA class III and under optimal medical therapy, without previous documented ventricular arrhythmias. After implantation of a CRT defibrillator, she suffered an arrhythmic storm with multiple episodes of monomorphic ventricular tachycardia (VT), requiring 12 shocks. Subsequently, a pattern of ventricular bigeminy was observed, as well as reproducible VT runs induced by biventricular pacing.Since no other vein of the coronary sinus system was accessible, it was decided to implant an epicardial lead to stimulate the left ventricle, positioned in the left ventricular mid‐lateral wall. No arrhythmias were detected in the following six months.This case highlights the possible proarrhythmic effect of biventricular pacing with a left ventricular lead positioned in the coronary sinus venous system. Palavras‐chave: Ressincronização cardíaca, Pacing epicárdico, Heterogeneidade da repolarização, Keywords: Cardiac resynchronization, Epicardial pacing, Repolarization heterogeneity