Revista Portuguesa de Farmacoterapia (Jul 2016)

Incidência de Reações Adversas a Medicamentos nos Serviços de Medicina e Terapia do Hospital Central Josina Machel, em 2014

  • João Fernandes Mateus Sebastião,
  • Lara Fernández Héctor,
  • Vladimir Calzadilla Moreira,
  • Ignacio Miguel Gomez Macineira,
  • Mário Héctor Almeida Alfonso

DOI
https://doi.org/10.25756/rpf.v8i2.115
Journal volume & issue
Vol. 8, no. 2

Abstract

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Introdução: O desconhecimento da incidência das reações adversas a medicamentos no meio hospitalar e a sua influência na morbilidade e mortalidade constituem hoje um problema de saúde em Angola. Nos últimos anos são praticamente nulas as notificações de reações adversas a medicamentos, em especial ao nível dos cuidados hospitalares. Reveste-se de extrema importância caracterizar a incidência das reações adversas a medicamentos que ocorrem em contexto hospitalar, de modo a implementar medidas cujo objetivo último seja a melhoria dos cuidados de saúde prestados. Material e Métodos: Realizou-se um estudo observacional descritivo e prospetivo, para caracterizar a incidência das reações adversas a medicamentos que se apresentaram em pacientes internados no Hospital Central Josina Machel, em Luanda, durante o ano 2014. Foi feita uma monitorização intensiva através da pesquisa ativa de efeitos adversos potencialmente associados aos medicamentos prescritos. Resultados: Do total de 2041 pacientes internados, 175 foram afetados por reações adversas a medicamentos. Na área de medicina (n = 1077), a taxa de incidência foi de 4,74% e, na área de terapia (n = 964), foi de 12,86%. Detetou-se um total de 209 reações adversas a medicamentos, o que corresponde a uma média de 1,2 reações adversas a medicamentos por paciente. A maior incidência de reações adversas a medicamentos registou-se nos doentes com idade entre os 18 e os 35 anos, em 79 pacientes (45,14%). Relativamente à classe terapêutica verificou-se que os antimicrobianos foram os medicamentos mais frequentemente associados à ocorrência de reações adversas a medicamentos, com 71 notificações (40,57%), seguido dos analgésicos, antipiréticos e anti-inflamatórios não-esteroides, com 20%. Dentro dos antimicrobianos, o quinino e o artesumato foram os que originaram maior número de notificações, 25 (14,29%) e 15 (8,57%) respetivamente. No grupo dos anti-inflamatórios não-esteroides destaca-se o diclofenac, com 13 notificações (7,43%). As manifestações clínicas mais frequentes foram o rash cutâneo, que correspondeu a 23,44% das reações adversas registadas, seguido do sangramento, observado em 8,61% dos casos de reações adversas (n=18). Dentro do grupo dos antimicrobianos foram os antimaláricos e as cefalosporinas que corresponderam com maior frequência às lesões cutâneas, em 27 notificações (55,10%). No que respeita à severidade das reações adversas tiveram preponderância as moderadas, com 66,86% (n = 117), seguidas das graves com 22,29%. A maioria das reações adversas foi classificada como provável (80,57%). Discussão e Conclusão: Evidenciou-se uma elevada frequência de ocorrência de reações adversas a medicamentos em pacientes hospitalizados, em especial nos serviços de terapia. Os antimicrobianos, os analgésicos, os antipiréticos e os anti-inflamatórios contribuíram para a maior frequência de eventos adversos. Importa ainda salientar a subnotificação de reações adversas a medicamentos pelos profissionais de saúde e a necessidade de contar com um sistema de notificação de eventos adversos a medicamentos que combine técnicas de vigilância passiva e ativa para a prevenção e deteção das reações adversas a medicamentos.

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