Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

O PAPEL DA HEMOTERAPIA IMPACTANDO POSITIVAMENTE NA QUALIDADE DE VIDA DE PACIENTE COM DOENÇA FALCIFORME E ÚLCERAS CRÔNICAS DE MEMBROS INFERIORES – RELATO DE CASO

  • PG Moura,
  • MS Simão,
  • C Rebello,
  • RL Lima,
  • M Augusto,
  • IG Cláudio,
  • L Avelar,
  • LA Nunes,
  • F Akil

Journal volume & issue
Vol. 46
p. S845

Abstract

Read online

Resumo: Relato de caso de paciente de 44 anos com Doença Falciforme (DF) sem tratamento otimizado, com úlceras crônicas de membros inferiores desde 2017 e que, após o início do programa de transfusões de troca obteve melhora expressiva e resolução quase completa, mudando a trajetória da sua vida pessoal e social. Introdução: A manifestação cutânea mais comum em paciente com DF é a úlcera maleolar. São lesões dolorosas, podem ser extensas, de difícil tratamento e cicatrização, comumente infectadas e redicivantes. A patogênese da úlcera parece ser multifatorial, sendo alguns desses fatores: precipitação das hemácias falcizadas com ocorrência de vaso oclusão de micro vasos, hemólise intravascular, formação de micro trombos locais com deposição de fibrina na luz do vaso e liberação de citocinas pró inflamatórias. As úlceras cutâneas trazem impactos físicos, psicológicos e sociais na vida do paciente, deixando-o muitas vezes incapacitante. Relato do caso: Paciente de 44 anos, masculino, negro, ex-bancário, com diagnóstico de DF SS aos 7 anos de idade após múltiplas internações por crises vaso oclusivas. Em 2014 iniciou uso de hidroxiureia. Em 2017, surgiu uma úlcera perimaleolar em membro inferior esquerdo. Em novembro/ 20, foi internado por STA pós COVID grave, ficando em ventilação mecânica e evoluindo com hipertensão pulmonar grave e aumento da úlcera em membro inferior. Desde então, paciente internou inúmeras vezes, por descompensação do quadro respiratório e necessidade transfusional. Em Janeiro/23, evoluiu com nova úlcera em membro inferior direito, sendo ambas úlceras extremamente dolorosas, profundas, extensas, por vezes infectadas, secretivas e fétidas, nunca resolvidas. Devido às limitações que as úlceras lhe trouxeram e à má qualidade de vida, o paciente relatou tentativas de autoextermínio, levando ao afastamento da vida social e profissional. Em fevereiro/24, paciente chegou ao ambulatório de hemoterapia bem debilitado, com Hb em torno de 5 g/dl, usando cadeira de rodas por dificuldade de deambulação, com dor importante em úlceras extensas. Foi, então, submetido inicialmente a transfusões simples de hemácias filtradas e fenotipadas devido à anemia grave, e posteriormente, iniciado programa de transfusões de troca mensais no qual se mantém atualmente. Após o início das transfusões de troca a úlcera do MID cicatrizou por completo (fechamento em junho 2024) e a do MIE já se apresenta bem menor, superficial, menos dolorosa, e o paciente já deambula sem auxílio e refere melhora importante na qualidade de vida, com diversos projetos para o futuro. Discussão: As úlceras maleolares se destacam entre os agravos crônicos de difícil resolução em pacientes com DF, acometendo cerca de 20% dos portadores da doença, adultos jovens e podem permanecer abertas por anos. Levam à alta morbimortalidade, quadros graves de infecção, sangramento, dor crônica e complicações osteoarticulares. Além da dificuldade do manejo em si, os pacientes portadores de úlceras crônicas vivem grandes impactos em outras dimensões da vida como profissional, sentimental e social. Muitos desenvolvem transtornos psiquiátricos, potencializados por preconceitos e rupturas sociais. Em nosso relato de caso, com a otimização do tratamento da DF com as transfusões de troca, presenciamos a melhora da qualidade de vida do paciente, melhora da saúde mental e o retorno do mesmo para as atividades sociais e para o convívio família.