Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
RACIOCÍNIO CLÍNICO: IMPORTÂNCIA EM UM CASO DE ANEMIA MEGALOBLÁSTICA
Abstract
A anemia megaloblástica tem como principal causa a deficiência de vitamina B12, impactando em retardo da divisão celular e anemia macrocítica. Na maioria das vezes, isso leva a transtornos hematológicos associados à neuropatia; ou evoluir de forma assintomática por longos períodos, levando a manifestações neurológicas irreversíveis. Desde a década de 1970, as discussões sobre raciocínio clínico vieram ampliar a habilidade diagnóstica na tomada de decisões mais assertivas. Em 2019, a Organização Mundial de Saúde publicou que 40% dos pacientes sofrem erros diagnósticos, evitáveis em 80% dos casos, na atenção primária e ambulatorial. Na formação médica é essencial proporcionar o desenvolvimento das habilidades do raciocínio clínico com treinamentos no ambiente da prática, valorizar desde o acolhimento, a obtenção de informações importantes da história clínica, realização de exame físico completo que somados ao conhecimento científico prévio proporcione hipóteses diagnósticas efetivas. Objetivos: Demonstrar a importância do raciocínio clínico em promover redução dos erros diagnósticos e danos ao paciente. Metodologia: Revisão da literatura nas plataformas PubMed e Scielo e análise do prontuário no caso de anemia por deficiência de vitamina B12. Relato do caso: Paciente T.L.F., feminina, 30 anos, atendida no ambulatório da Universidade Anhembi Morumbi com histórico de intolerância aos esforços e formigamento dos membros inferiores progresssivos, há oito meses. O hemograma, realizado há onze meses, mostrava hemoglobina (Hb) 11,1g/dL e volume corpuscular médio (VCM) 120fL, sendo medicada com reposição de ferro oral. Evoluiu com piora clínica importante associada a vários episódios de anemia macrocítica intensa, Hb entre 3 e 4 g/dL, determinando sua internação e necessidades transfusionais. Em sua última internação em decorrência do histórico clínico, da piora importante do quadro da polineuropatia periférica foi realizada investigação diagnóstica e identificada a deficiência de vitamina B12. Recebeu admnistração de cianocobalamina injetável e foi encaminhada à atenção primária. Em seu atendimento ambulatorial a paciente apresentava normalização do hemograma, mas sem recuperação da polineuropatia periférica, sendo encaminhada para acompanhamento com neurologista. Como não tinha uma causa evidente para a deficiência de vitamina B12, foi solicitada a realização de endoscopia digestiva alta, com biópsia gástrica, para investigação de provável gastrite atrófica como causa de anemia perniciosa. Discussão: Os sinais e sintomas clínicos informados, relacionados à anemia macrocítica evidenciada desde o primeiro hemograma e a polineuropatia, permitem levantar a hipótese diagnóstica mais provável de anemia megaloblástica por deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico. O raciocínio clínico efetivo promoveria um diagnóstico clínico e tratamento mais precoces proporcionando uma melhor resposta da polineuropatia. Conclusão: O raciocínio clínico na prática médica, além de alcançar um diagnóstico e tratamento precoce e eficaz, proporciona a redução de danos aos pacientes. Isto seria crucial na melhor evolução da polineuropatia da paciente, redução das sequelas neurológicas, proporcionando melhor qualidade de vida. Tratamento precoce com redução da exposição a hemocomponentes, diminuindo o risco de complicações, vem de encontro a abordagem do Patient Blood Management (PBM), melhor gerenciamento do sangue do paciente, e menor ônus para o sistema de saúde.