Pistis & Praxis: Teologia e Pastoral (Sep 2022)

doutrina diabólica da retribuição e a teologia da graça de Jesus no episódio das tentações

  • Valmor da Silva,
  • José Geraldo de Gouveia

DOI
https://doi.org/10.7213/2175-1838.14.002.AO03
Journal volume & issue
Vol. 14, no. 2

Abstract

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A partir do episódio das tentações de Jesus, o artigo compara duas her­menêuticas distintas: a do diabo, baseada na doutrina da retribuição, e a de Jesus, fundamentada na teologia da graça. A análise é feita sobre o episódio narrado por Mateus (Mt 4,1-11), considerando as diferenças apresentadas por Lucas (Lc 4,1-13). Considera-se o gênero do relato como um midrash haggádico, isto é, uma narrativa para instruir, em torno a textos do Antigo Testamento, especificamente do Deutero­nômio (Dt 6-8) com suas referências aos episódios do Êxodo. Nesse sentido, a nar­rativa das tentações se apresenta como um debate entre um protagonista e um an­tagonista, como uma espécie de disputa entre dois rabinos, confrontando textos da Escritura. Nas três provocações do diabo, ele demonstra conhecer a Bíblia através de citações textuais e de interpretações bem fundamentadas. Porém, sua fundamen­tação hermenêutica é a da retribuição, segundo a qual, sendo Jesus filho de Deus, o Pai teria obrigação de compensá-lo com prazer, poder e riqueza. Jesus, em suas respostas, interpreta a filiação messiânica como fidelidade à proposta do Pai, assu­mindo o caminho da cruz, na perseverança ao serviço constante. O artigo visa escla­recer equívocos atuais, contidos na chamada teologia da prosperidade, que se ba­seia na doutrina da retribuição.