Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

RELATO DE CASO: AVALIAÇÃO GENÉTICA DE PACIENTE COM CASO REFRATÁRIO DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA DE CÉLULAS B INFANTIL

  • GS Loureiro,
  • TC Barbosa,
  • M Villares,
  • ASCP Campos,
  • A Maiolino,
  • M Emerenciano,
  • P Horn,
  • ES Costa,
  • C Lage

Journal volume & issue
Vol. 46
pp. S414 – S415

Abstract

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Introdução: A Leucemia Linfoblástica Aguda de precursores B (LLA-pB) é uma das neoplasias mais comuns na infância, representando cerca de 25% dos casos em crianças abaixo de 15 anos, com pico de incidência entre 2 e 3 anos. Mecanismos de reparo de DNA, como a Reparação por Excisão de Base (BER), a Reparação por Excisão de Nucleotídeo (NER) e a Recombinação Homóloga (HRR), são cruciais para manter a estabilidade do genoma. Alterações nesses mecanismos podem afetar negativamente a resposta ao tratamento e a sobrevivência. Objetivo: Relatar um caso de resistência à quimioterapia em um paciente pediátrico com LLA-pB, com foco nas alterações genéticas e moleculares, especialmente nos mecanismos de reparo de DNA. Relato de caso: Menino de 11 anos com astenia, palidez e dor abdominal, apresentando HB 4,5 g/dL, leucometria 4.500/mm3 e plaquetas 258.000/mm3. A imunofenotipagem da medula óssea revelou LLA-pB com 40% de células precursoras B leucêmicas, e a citogenética mostrou 46XY. Foi tratado com o protocolo BFM AEIOP 2013. A medula óssea permaneceu infiltrada no D15 (18% de blastos) e D33/TP1 (21% de blastos), e entrou em remissão morfológica no D78/TP2 (4% de blastos), detectados por citometria de fluxo (CF). Alcançou a primeira Doença Residual Mensurável (MRD) negativa (< 0,001%) após o bloco HR-II. Na avaliação pré-protocolo III, foi observada progressão com 3,2% de DRM, evoluindo rapidamente para 55% de blastos. O protocolo de recaída Flag-Ida foi realizado sem resposta. O tratamento com anti-CD19 (Blinatumomab) por 28 dias também foi ineficaz, impossibilitando o transplante haploidêntico, previamente agendado. O paciente faleceu em maio de 2020, 11 meses após o diagnóstico. Em análise genética retrospectiva, realizada a partir de material genético criopreservado, a técnica de MLPA revelou deleções nos genes IKZF1, CDKN2A, CDKN2B e PAX5, classificando o paciente como IKZF1plus devido à ausência de deleção no gene ERG1. O sequenciamento dos genes de reparo de DNA APEX1, XRCC1, XPD, XPA, RAD51 e XRCC3 revelou 54 variantes, das quais 19 eram mutações raras com frequência populacional menor que 0,01. Polimorfismos de único nucleotídeo (SNPs) de reconhecida relevância clínica foram identificados nos genes APEX1 (Asp148Glu) e XRCC1 (Arg399Gln e Arg194Trp). Discussão: A presença de múltiplas variantes raras é considerado um indicativo de mutagênese elevada. Os genes APEX1 e XRCC1 estão envolvidos na via BER, e os SNPs são encontrados associados como fatores de pior prognóstico em diversas neoplasias. A via BER é fundamental na proteção do tecido hematopoiético, e defeitos nesta via podem afetar negativamente a resposta ao tratamento e a evolução da doença. A mutagênese aumentada pode ter contribuído para o surgimento de alterações secundárias, como o perfil IKZF1plus. Estudos sobre o papel do reparo de DNA em neoplasias hematológicas são escassos, sem dados suficientes para uma correlação estatística conclusiva. Conclusão: Integrar análises genéticas com achados clínicos é essencial para otimizar o tratamento em pacientes com perfis genéticos complexos. Identificamos defeitos na via BER como potenciais moduladores da resposta terapêutica. Avaliar individualmente o reparo de DNA pode ajudar a entender como variações genéticas individuais influenciam a resposta clínica e assim melhorar a precisão do prognóstico.