Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2021)
ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE DOADORES DE SANGUE QUE SOROCONVERTERAM PARA HIV NO BANCO DE SANGUE DO HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE
Abstract
Introdução: A despeito de todos os grandes ajustes, adequações e evoluções tecnológicas experimentadas pela hemoterapia ao longo de décadas, o processo transfusional ainda representa risco ao receptor. Este se deve, entre outros fatores, pelas doações realizadas previamente à soroconversão – doações em período de janela imunológica. Diante disso, são fundamentais os esforços empenhados na tentativa de traçar o perfil das doações que apresentam risco aumentado ao processo transfusional. Um estudo anterior do nosso grupo demonstrou que a soroconversão acontecia com maior frequência nos doadores espontâneos e que estes estavam associados com maior infecção por HIV, o que sugeria um perfil de buscadores de teste. Objetivo: Analisar as soroconversões para HIV identificadas no Serviço de Hemoterapia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, comparando, especialmente, o tipo da doação – espontânea e reposição – e caracterizando o perfil dos doadores que soroconvertem. Material e métodos: Estudo retrospectivo com busca de dados epidemiológicos e de sorologia nos sistemas informatizados AGH e Realblood no período compreendido entre janeiro de 2004 e julho de 2021. Foram identificadas as sorologias reagentes de doadores de repetição confirmadas para HIV e, dentre essas, selecionados os casos de soroconversão, ou seja, quando um doador com sorologia não reagente em doações prévias apresenta viragem para este marcador. Os dados foram reunidos e as análises estatísticas realizadas no programa SPSS versão 18. Resultados e discussão: No período de análise, ocorreram aproximadamente 269.000 doações, das quais 62,6% foram de reposição e 37,4% espontâneas. Verificamos soroconversão para HIV em 48 doações, sendo 25 (52%) de reposição e 23 (48%) espontâneas. De modo geral, a maioria dos doadores que soroconverteram para HIV são do sexo masculino (75%), solteiros (66,7%), brancos (75%), com baixa escolaridade (54,2%), com idade média no diagnóstico de 37,3 ± 9,9 anos. Não houve diferença significativa na ocorrência de soroconversão para HIV quando comparadas doações espontâneas e de reposição. O número médio de doações até a constatação da soroconversão foi similar entre doações espontâneas e de reposição (4,78 ± 2,0 versus 3,44 ± 4,2; p > 0,05). Comparativamente, não existe diferença de sexo, estado civil e escolaridade entre as soroconversões. No entanto, observou-se que os doadores espontâneos soroconvertem para HIV mais jovens que os de reposição (33,6 ± 7,2 versus 40,7 ± 11,9; p = 0,01). Conclusão: Diante dos resultados, em relação ao nosso estudo anterior, observa-se que a motivação para doação parece ter mudado para um perfil mais solidário e altruísta. Grande parte dessa modificação reflete o investimento local e nacional na fidelização e educação dos doadores.