Diacrítica (May 2022)
GESTOS DA DISSIMULAÇÃO
Abstract
Obra da primeira fase da produção machadiana, Helena agradou a crítica num primeiro momento por aproximar-se do melodrama, gênero de muita aceitação no século XIX, embora ao longo do século XX tenha passado a ser criticado por não cumprir as expectativas que se esperava do gênero, sobretudo ao conceber um vilão que está longe de encarnar plenamente a polarização entre extremos, como bem e mal, puro e impuro, etc.. No entanto, tem se prestado pouco atenção à heroína que dá título ao romance, que, embora se apresente como a típica vítima inocente perseguida pelo malfeitor, ela apresenta uma cisão interna inaceitável para o gênero, a crermos em seus principais estudiosos (Heilman, Sharp, Brooks). Transigindo com o vilão, ela acaba por tentar manipular personagens e enredo em seu próprio benefício, colocando seriamente em risco os fundamentos do gênero. Isso sugere mais do que uma falha de concepção por parte de Machado, mas, sim, um questionamento deliberado ao gênero e da própria natureza da narrativa, questionamento que será deliberadamente aprofundado em seus romances maduros, como Dom Casmurro e Esaú e Jacó.