Diacrítica (Dec 2020)

Quem tramou Yoritomo-Tashi? Ser ou não ser

  • Marta Pacheco Pinto

Journal volume & issue
Vol. 34, no. 3

Abstract

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O presente artigo oferece um estudo de caso centrado na receção, no início do século XX, de Yoritomo-Tashiem Portugal. Trata-se de um pretenso filósofo japonês, que foi dado a conhecer através do trabalho de edição de B. Dangennes, um dos pseudónimos de uma escritora francesa de livros de auto-ajuda, de nome verdadeiro Berthe Blanchard (18[-]–1940). Analisa-se a receção a partir dos paratextos das traduções portuguesas, entendidos como mecanismos de (re)enquadramento que contam diferentes histórias sobre um mesmo autor e os seus livros, os quais, em última análise, constroem o sistema literário e cultural a que Yoritomo-Tashi pertence. A primeira tradução a circular em português(europeu), pela mão de Bernardo de Alcobaça em 1912, e cujo paratexto sugere um (con)texto de partida japonês, será discutida como uma tradução assumida de um original (japonês) que não existe, ilustrando um caso de pseudo tradução indireta. As outras três adaptações existentes datam do final da década de 1920e foram produzidas por um agente diferente(A. Victor Machado), que parece estar a par de que Yoritomo-Tashié um pseudónimo, devolvendo gradualmente, por via do paratexto, Yoritomo-Tashi/Dangennes ao sistema literário francês. Os tradutores portugueses serão também questionados quanto à sua conivência como projeto de tradução fictícia de Dangennes/Blanchard.Mostrar-se-á em que medida esta conivência, conforme moldada pelo paratexto, influencia a efetiva pertença do trabalho de um autor ao sistema de tradução japonês-português, para além de funcionar como vestígio do exotismo patente na Europa do início do século XX.

Keywords