Gazeta Médica (Sep 2024)
Consultas em Série: uma Inevitabilidade à Procura de Solução
Abstract
É central e inquestionável a importância de um acesso justo e digno à saúde Os direitos e a autonomia do utente, sendo um pilar central da ética médica, permite a escolha livre entre serviços de saúde públicos e privados. Contudo, esta autonomia traz consigo desafios, especialmente quando se trata de equilibrar a liberdade de escolha do utente com a necessidade de manter a coerência na prestação de serviços de saúde. A esta consideração surge associada a questão da multipatologia e da complexidade de pacientes que são seguidos em várias especialidades e instituições, diluindo o papel tradicional do médico de família. Em simultâneo, a modernização dos serviços de saúde proporcionou uma maior flexibilidade e conveniência aos utentes, permitindo-lhes optar por horários mais convenientes e acesso mais rápido a consultas. No entanto, tudo isto resulta em desafios logísticos, como a coordenação eficaz entre diferentes instituições de saúde, essencial para manter a qualidade e a continuidade dos cuidados. A utilização de múltiplos serviços pode levar à repetição desnecessária de exames, sobrecarga nos serviços de saúde e riscos para a relação médico-doente. Apesar da informatização dos processos clínicos dos utentes e a rápida evolução da tecnologia médica têm vindo a contribuir significativamente para uma maior coerência dos cuidados prestados aos utentes, trazem também desafios como a falta de integração entre os sistemas de informação de diferentes instituições de saúde. Como consequência, apesar da maior facilidade que o utente tem no acesso a diversas instituições e serviços clínicos, da modernização e informatização dos sistemas de saúde que facilitam a agregação e partilha de informação clínica, dificuldades relacionadas com a eficácia e coordenação de todos os atores envolvidos e de todas estas ferramentas conduzem à falta de confiança em todo o processo de tratamento do utente.