Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

ANEMIA FALCIFORME: UMA REVISÃO ACERCA DOS ASPECTOS PSICOSSOCIAIS

  • TAMB Almeida,
  • RSM Neves,
  • RM Malatesta,
  • JMP Rivello,
  • MPA Apolinário,
  • MFO Furlani,
  • LFP Peluso,
  • DS Martins,
  • LDB Almeida,
  • RS Mendes

Journal volume & issue
Vol. 45
pp. S922 – S923

Abstract

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Introdução: A anemia falciforme (AF) é uma doença hereditária causada por uma mutação nos genes da cadeia beta-globina e detectada pela presença da hemoglobina S nas hemácias. No Brasil, ela compõe a condição genética crônica mais prevalente, sendo um relevante assunto de Saúde Pública, visto que os aspectos psicossociais da hemoglobinopatia influenciam a autoestima, imagem corporal, bem-estar emocional, formação da personalidade e relações pessoais do indivíduo afetado. Objetivos: Fornecer uma síntese acerca das informações existentes sobre os impactos psicossociais desse tipo de doença falciforme (DF), de forma a ressaltar a importância desses aspectos na doença hematológica em questão e ampliar a compreensão acerca da condição dos pacientes. Metodologia: O trabalho em questão trata-se de uma revisão integrativa com base no banco de dados das plataformas SciELO, PubMed e Portal Regional da Biblioteca Virtual em Saúde. A pesquisa utilizou os descritores “‘sickle cell anemia’ AND psychosocial”, selecionando artigos dos últimos dez anos, completos e em português e inglês. Excluíram-se os estudos que não abordavam a temática desta pesquisa em seus resumos. Resultados e discussão: Portadores da AF convivem com recorrentes quadros de crises e lesões de órgãos-alvo. A sintomatologia pode apresentar-se com crises vaso-oclusivas; dores agudas e crônicas; úlceras nos membros; manifestações pulmonares, neurológicas, genitourinárias, ósseas, cardiovasculares, hepatobiliares, oftálmicas e esplênicas. Essas alterações físicas cursam com distúrbios cognitivos e emocionais, os quais interferem no desenvolvimento psicossocial da população falciforme, com manifestações de tristeza, indiferença, angústia, impotência, falta de perspectiva e sensação de inutilidade, marcadas por quadros que restringem o cotidiano desses indivíduos. Dessarte, a impotência em que se encontram os pacientes culmina em quadros de transtornos mentais, como depressão, ansiedade, distimia e bipolaridade. Tal contexto desencadeia comportamentos de esquiva social, bem como problemas severos de baixo rendimento escolar e baixa autoestima, subsequentes das hospitalizações frequentes. Para além disso, a hemoglobinopatia não deixa de exercer a sua influência sobre os genitores do indivíduo afetado, incitando uma preocupação incessante diante das exigências cuidadosas que a condição requer. Nessa jornada, entrelaça-se uma teia de desafios financeiros decorrentes do tratamento médico, bem como restringe as atividades familiares, potencialmente dando origem a sentimentos de frustração e isolamento que permeiam a vida de todos os membros da família. Assim, constrói-se uma relação bidirecional entre a doença e as variadas desordens psicológicas, em que as complicações físicas da AF agravam o quadro psicológico do paciente, e vice-versa. Conclusão: Logo, diante da variedade de complicações causadas pela doença, faz-se necessária a constante atenção familiar e multiprofissional, com destaque para os psicólogos, com o objetivo de mitigar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente. Dessa maneira, o núcleo familiar no qual a hemoglobinopatia se faz presente é guiado pelas vicissitudes da doença, que reverberam no desenvolvimento psicossocial do indivíduo afetado. Ademais, fica claro que a avaliação específica de depressão em pacientes com anemia falciforme ainda é objeto de poucos estudos e seu diagnóstico é subestimado pelos profissionais de saúde.