Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
RESULTADOS DISCREPANTES DE ATIVIDADE DO FATOR DE VON WILLEBRAND POR DIFERENTES PRINCÍPIOS NO ANALISADOR ACL TOP EM PESSOA COM TROMBOCITEMIA ESSENCIAL (TE)
Abstract
Introdução: A associação entre Síndromes Mieloproliferativas (SMP) com trombocitose significativa, em especial a TE, tendência a sangramento e Doença de von Willebrand Tipo 2A adquirido (DVWA) tem sido relatada e o rastreio é indicado. O Cofator de Ristocetina do Fator de von Willebrand (FVW:Rco) é o ensaio mais comum utilizado na medição da função da proteína. Entretanto, nem todos cursam com história clínica de sangramento. Relato de caso: Homem, 65 anos, HIV+, carga viral indetectável, encaminhado com plaquetose e esplenomegalia desde maio/2023. Uso contínuo de antirretroviral (TARV) e AAS 100 mg, sem histórico familiar de neoplasias. BCR ABL (190/P40) não detectado e JAK2 V617F com presença de mutação. Diagnóstico de TE JAK positivo. Plaquetas = 1.619.000 mm3. Ausência de sangramento. Exames: FVW:Ag = 83,8% (VR 50%‒150%), FVW:Ativ = 48,7% (VR 50%‒150%), FVW:Rco = 2,0% (VR 50%‒150%), FVIII = 60,8% (VR 50%‒150%), TTPA R = 1,56 (VR < 1,25), corrigindo a 50% R = 1,13. Equipamento: Coagulômetro ACL TOP 550, Instrumental Laboratory (Werfen) e reagentes HemosIL. Discussão: Apresentou discrepância substancial entre os métodos para análise qualitativa do FVW. Considerando os testes com resultados inferiores ao VR, a correlação FVW:Ativ/FVW:Ag = 0,58 e FVW:Rco/FVW:Ag = 0,024 demonstraram desproporcionalidade, principalmente porque o resultado FVW:Ativ limítrofe não atingiu níveis que demonstram a real disfuncionalidade do FVW. Os guidelines clínicos sugerem a medição e comparação do FVW:Ag, da atividade de ligação plaquetária do FVW (FVW:GPIbM, FVW:GPIbR) em relação ao ensaio do FVW:Rco para o diagnóstico de DVW e os níveis plasmáticos do FVIII para a diferenciação dos tipos e subtipos. O kit FVW:Ativ da HemosIL possui um anticorpo monoclonal anti-FVW adsorvido no látex, dirigido contra o sítio de ligação do FVW às plaquetas (GP1BR). Já o kit FVW:RCo possui partículas de látex revestidas com um fragmento recombinante do receptor plaquetário de FVW (rGP1b), através de um anticorpo monoclonal específico que orienta o fragmento rGP1b que interage com o FVW na presença de ristocetina. Em ambas as técnicas a aglutinação é diretamente proporcional à atividade do FVW. Essa discrepância foi descrita por Noye, Beggs e Mason (2023). A estrutura das glicoproteínas de membrana das plaquetas na TE é semelhante às plaquetas normais, mas a função pode estar comprometida devido a alterações na sinalização intracelular ou superprodução, onde o cisalhamento mecânico favorece a ativação plaquetária e subsequente remoção da circulação dos multímeros de FVW de alto peso molecular. A causa da discrepância entre os ensaios ainda é desconhecida, uma vez que ambos os princípios são semelhantes, porém especula-se que o microambiente plaquetário neoplásico e inflamatório pode interagir de forma anormal na imunoturbidimetria em látex, podendo existir interferentes de forma diferenciada nos dois tipos de sítios de ligação. Assim, a utilidade preditiva desses ensaios não é clara principalmente na ausência de histórico de sangramento. Conclusão: A correlação FVW:RCo/FVW:Ag < 0,7 avaliada isoladamente não contribui para o diagnóstico de DVWA e para avaliar risco de sangramento. Diferentes métodos devem ser usados para diagnóstico de DVWA em pessoas com TE, e outras SMP, principalmente quando não há histórico de sangramento.