ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA E FUNÇÃO RENAL EM PACIENTES COM DOENÇA FALCIFORME

Abstract

Objetivos: Descrever os aspectos epidemiológicos e relatar os achados relacionados à avaliação da função renal em pacientes com Doença Falciforme (DF). Materiais e métodos: Foram incluídos 50 pacientes com DF com cadastro ativo na Fundação Hemominas Juiz de Fora, no período de agosto de 2022 a março de 2023. Foram recrutados pacientes em regime de transfusão crônica, e crianças com a doença. As variáveis estudadas foram: sexo, idade, tipo de DF, índice de massa corporal (IMC), regime de transfusão, creatinina sérica, microalbuminúria e taxa de filtração glomerular (TFG). A análise estatística foi realizada utilizando o programa Graphpad Prism 8.0.2, teste de Shapiro-Wilk, teste t de Welch e o software SPSS® versão 21. A pesquisa está registrada na Plataforma Brasil CAAE 17514619.6.2003.5118. Resultados: Foram excluídos dois pacientes que não coletaram urina para análise de microalbuminúria. A média de idade foi de 8,89 anos (variando de 3 a 27 anos). Quanto ao sexo, 66% da amostra eram mulheres. O IMC médio foi de 16,48 kg/m2 (variando de 13,01 a 26,75 kg/m2). Em relação ao genótipo da DF, 64% eram HbSS, 26% HbSC e 10% HbS/Beta-Talassemia. Nove pacientes (18%) encontravam-se em regime de transfusão crônica, e eram portadores do genótipo HbSS. Comparando o genótipo HbSS com os outros, observou-se que a diferença de IMC entre os grupos foi de 1,453 ± 0,7095 menor no grupo HbSS (p = 0,0462). A média da TFG foi de 124,35 ml/min, a média de creatinina foi de 0,34 mg/dL e a média de microalbuminúria foi de 16,14 mg/g de creatinina. A partir do teste Q2, a relação entre genótipo e TFG (p = 0,42), creatinina (p = 0,338) e microalbuminúria (p = 0,924) não mostrou correlação significativa nessa amostra. Discussão: O genótipo da DF influenciou significativamente o status clínico, com o IMC sendo menor no grupo HbSS. Devido à hipostenúria, a DF é caracterizada por níveis reduzidos de creatinina, o que pode ter resultado em uma alta TFG. A microalbuminúria mostrou-se mais sensível para a identificação do comprometimento renal e deve ser instituída o mais precocemente possível nessa população. Conclusão: Notou-se que o IMC foi significativamente menor nos pacientes com genótipo HbSS, indicando um impacto considerável deste genótipo no estado nutricional. A avaliação da função renal revelou níveis elevados de taxa de filtração glomerular (TFG), possivelmente devido à hipostenúria característica da DF. A microalbuminúria se mostrou um marcador precoce e sensível de comprometimento renal, sugerindo a necessidade de sua inclusão nas avaliações rotineiras desses pacientes para permitir intervenções mais precoces e melhorar os desfechos renais. Estes achados reforçam a importância de um acompanhamento multidisciplinar e personalizado para os pacientes com DF, considerando as variações genotípicas e suas implicações clínicas.