Intexto (Dec 2020)

Engajamento desterrado: a relação de Vilém Flusser com o Brasil

  • Rafael Alonso

DOI
https://doi.org/10.19132/1807-8583202051.46-62
Journal volume & issue
Vol. 0, no. 51
pp. 46 – 62

Abstract

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Vilém Flusser é um pensador desenraizado. Judeu e praguense, tem a família assassinada pelos nazistas. Após um ano na Inglaterra, chega ao Brasil em 1940, onde viveria por pouco mais de três décadas. Filósofo multilíngue, faz da autotradução o seu pressuposto de pensamento, postulando que tantas são as realidades quantas forem as línguas articuláveis. Retorna à Europa em 1972 e, a partir de então, leva a vida entre palestras e conferências, sem se filiar formalmente a nenhuma instituição acadêmica. Apesar de sua biografia e filosofia desterradas, o conceito de engajamento não deixou de ser central em sua obra, sobretudo pelo tempo em que viveu no Brasil. É no Brasil que a veiculação afetiva e política a um lugar atravessa o pensamento deste filósofo apátrida, sentimento que o acompanha até o final da vida. A proposta deste artigo, a partir da leitura atenta da correspondência inédita com alguns de seus principais interlocutores, é discutir o engajamento brasileiro de Flusser. A premissa é que Flusser forjou um modelo imaginativo, ainda que sem a pretensão de formular uma “filosofia brasileira”, que pode servir de chave crítica para o entendimento do Brasil contemporâneo. As dúvidas sobre as formas de engajamento no Brasil, que atravessaram a vida de Flusser, especialmente nos anos 1970, estão colocadas à mesa novamente.

Keywords