Jornal de Assistência Farmacêutica e Farmacoeconomia (Nov 2024)
ID130 Análise do Impacto Orçamentário na incorporação do Transplante de Microbiota Fecal para tratamento de infecções recorrentes por Clostridioides difficile
Abstract
Introdução As infecções por Clostridiodes difficile (C. difficile) vêm sofrendo aumento global e estão entre infecções relacionadas a assistência à saúde mais prevalentes nas instituições de saúde. Estão diretamente relacionadas ao uso de antimicrobianos, em particular os de amplo espectro, podendo desencadear diversas complicações. A recorrência é caracterizada por novo episódio da infecção em um período de até dois meses, após o fim do tratamento do primeiro episódio. Embora diretrizes internacionais apontem como primeira linha de tratamento para os casos recorrentes o uso de fidaxomicina ou vancomicina oral e o transplante de microbiota fecal (TMF), no Brasil, devido à falta de registro e comercialização de fidaxomicina e vancomicina oral, o tratamento é realizado principalmente com metronidazol e uso off label de vancomicina oral preparada a partir do pó liofilizado para administração endovenosa. Considerando as limitações de tratamento da infecção recorrente no cenário brasileiro, o transplante de microbiota fecal, uma terapia mais efetiva em comparação ao tratamento com metronidazol e vancomicina para os casos recorrentes, pode ser um recurso terapêutico de grande relevância para o Sistema Único de Saúde (SUS). Portanto, o objetivo desse trabalho foi realizar uma análise de impacto orçamentário para avaliar a factibilidade da incorporação do TMF no SUS. Métodos Foi realizada análise de impacto orçamentário, sob a perspectiva do SUS, comparando o tratamento atual de infecções recorrentes por C. difficile no Brasil realizado com vancomicina e/ou metronidazol com o cenário alternativo, através da incorporação do TMF com fezes frescas por colonoscopia. O horizonte temporal considerado foi de cinco anos, englobando os anos de 2024 a 2028, com taxa de difusão inicial de 5% em 2024, seguida de 10, 20, 40 e 80% no último ano, 2028. A população foi determinada a partir da abordagem epidemiológica, com aplicação da taxa de incidência e recorrência na população brasileira geral. O levantamento de custos foi realizado por método de microcusteio, sendo considerados todos os custos diretos associados ao tratamento atual e custos diretos do TMF, incluindo custos relacionados ao doador, receptor e processamento das fezes. Foi realizada análise de sensibilidade determinística para os seguintes parâmetros: custo do metronidazol oral e endovenoso, custo da vancomicina, custo do transplante, taxa de absorção, taxa de incidência e taxa de recorrência. Todos os dados utilizados no estudo são de domínio público. Resultados A análise do impacto orçamentário da incorporação do TMF no SUS, na estimativa pontual, evidenciou economia de R$ 27.084,72 acumulada nos cinco anos considerados. Os valores da análise de sensibilidade variaram de R$ -187.041,31 à R$ 357.176,64. Com relação à variação dos parâmetros na análise de sensibilidade, apenas a variação do custo de metronidazol injetável para o limite inferior e a variação do custo do transplante para o limite superior resultaram em maior custo para o SUS com a incorporação do TMF. O TMF se mostrou a opção mais econômica para todos os demais parâmetros variados na análise de sensibilidade. Discussão e conclusões Nenhum estudo brasileiro avaliou, até o momento, o impacto orçamentário da incorporação do TMF no Brasil. A análise de impacto orçamentário realizada demonstrou que a incorporação do TMF no SUS não só é factível como é capaz de gerar economia, o que pode contribuir para a sustentabilidade do sistema de saúde público. Para além do aspecto econômico, a incorporação da tecnologia possibilitaria a redução do consumo de antimicrobianos sistêmicos, o que poderia impactar positivamente na redução da resistência antimicrobiana, uma emergência global em saúde. Considerando a relevância do TMF para o SUS, espera-se que pesquisas futuras sobre o tema, incluindo a avaliação de aspectos regulatórios, éticos e processuais possam ser realizadas, de modo que, em futuro próximo, usuários do SUS com infecções recorrentes por C. difficile tenham o TMF como opção terapêutica segura, eficaz e econômica.
Keywords