Varia História (Jul 2005)
Emoções e política: primeiras aproximações Emotions and politics: first approximations
Abstract
Grande parte das pesquisas históricas tem se furtado a abordar do papel das emoções na construção das atividades políticas e sociais; um tipo de estudo a que muitas vezes rechaçam, acusando-o de produzir determinismos psicológicos. Mesmo várias vertentes da História Política fizeram das emoções um objeto estranho às suas discussões, ao optarem pelo estudo exclusivo dos aspectos cognitivos da política, e ao pressuporem serem os sujeitos plenamente conscientes e racionais, orientando-se apenas pelo impulso de satisfazer seus interesses, ou pela fidelidade a suas idéias. Contudo, novas perspectivas historiográficas apontam para a possibilidade de se agregar as dimensões simbólicas e afetivas ao estudo da política. Alinhando-se ao projeto de uma História Social das Emoções Políticas, esse ensaio avalia esses novos procedimentos, centrando-se na abordagem dos sentimentos que teriam regido a adesão política no período moderno, bem como aos repertórios retóricos e expressivos a eles associados. Para tanto, parte-se do exame da expressão das emoções, e seus usos, presentes nos textos de um pensador que é, ao mesmo tempo, ator e arguto observador do cenário pol ítico de sua época: Tocqueville. Fundindo o pensamento analítico à sua própria experiência, Tocqueville não limitou sua visão da política à gestão racional dos interesses, afirmando que ela se dava na interação de três elementos: paixões, interesses, e normas sociais. Idéia que fundamenta sua hipótese da existência de uma correlação dinâmica entre cada regime político (a democracia, em particular) e as paixões.A great part of historical research has been remiss in studying the role of the emotions in the construction of political and social activity, a type of study that is often opposed under the accusation of producing psychological determinisms. Various trends in political history made of the emotions a strange object in their discussions, by choosing the exclusive study of the cognitive aspects of politics and by presupposing that subjects are fully conscious and rational, guided only by the impulse of satisfying their interests or through faithfulness to their ideas. And yet, new historiographical perspectives point to the possibility of joining the symbolic and affective dimensions to the study of politics. Aligning itself with the project of a social history of the political emotions, this essay evaluates these new procedures, concentrating on the approach to the sentiments that have ruled political adhesion in the modern period, as well as the rhetorical and expressive repertories associated with them. For this purpose, it begins with the examination of the expression of emotions and their uses present in the texts of a thinker who is both an actor and astute observer of the political scenario of his time: Tocqueville. Fusing analytical thought with his own experience, Tocqueville did not limit his vision of politics to the rational management of interests, arguing that that took place in the interaction among three elements: passions, interests, and social norms, an idea that bases his hypothesis on the existence of a dynamic correlation between each political regime (democracy, in particular) and the passions.
Keywords