Archivos Latinoamericanos de Nutrición ()

Tratamento de Crianças com Desnutrição Grave Utilizando o Protocolo da OMS: Experiência de um Centro de Referência, São Paulo/Brasil Tratamento de crianças com desnutrição grave

  • Roseli Oselka Saccardo Sarni,
  • Fabíola Isabel Suano de Souza,
  • Priscila Catherino,
  • Cristiane Kochi,
  • Fernanda Luisa Ceragioli Oliveira,
  • Fernando José Nóbrega

Journal volume & issue
Vol. 55, no. 4
pp. 336 – 344

Abstract

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O objetivo desse estudo foi descrever as principais causas de internação e doenças associadas em crianças gravemente desnutridas (DEP), avaliar a mortalidade, evolução antropométrica e terapia nutricional, utilizando protocolo da Organização Mundial de Saúde - OMS). Em estudo retrospectivo, descritivo e transversal, avaliou-se 191 prontuários de crianças portadoras de DEP grave. Utilizou-se os indicadores antropométricos na forma de escore-z (peso/idade-ZP, estatura/idade-ZE e peso/estatura-ZPE) para classificação e avaliação da evolução nutricional durante a internação. As crianças foram divididas em 3 grupos (G): GI (desnutrição primária-30,9%), GII (desnutrição secundária-51,7%) e GIII (crianças que foram admitidas como GI e que durante a internação identificou-se alguma doença associada a DEP - 12%). A terapia nutricional baseou-se nas normas da OMS, 1999, com algumas modificações. Utilizou-se sempre fórmulas industrializadas: isenta de lactose (crianças com diarréia e na fase de estabilização), baixo teor de lactose (crianças sem diarréia e na fase de recuperação) e hidrolisado de proteínas do soro de leite de vaca (crianças com diarréia crônica e/ou sepse). Análise estatística: teste t-student, qui-quadrado e regressão linear simples. A mediana de idade foi de 10,3 meses e o índice de letalidade de 4,2%. As crianças do GI e GII eram mais velhas (11vs12vs7 meses,p=0,02) e permaneceram menos tempo internadas do que as do G III (20vs22vs37 dias,p=0,010). O risco de morte no GIII foi duas vezes maior (GIII>GII+GI; 8,7% vs 3,6%, p=0,25). Pneumonia, diarréia e baixo ganho ponderal foram os diagnósticos mais freqüentes a admissão. Sonda foi utilizada com maior freqüência no GII e GIII em relação ao GI (p=0,004). Nutrição parenteral foi indicada em apenas 5,7% das crianças (GII+GIII>GI,p=0,037). Intolerância a dieta inicialmente instituída foi observada em apenas 20% das crianças. Observou-se 87%, 74,1% e 22% de melhora em relação ao ZPE, ZP e ZE, respectivamente. O ZP no GI e o ZPE no GIII foram os indicadores que mostraram melhora mais efetiva durante a internação. O protocolo modificado da WHO foi efetivo no tratamento interprofissional de crianças portadoras de DEP grave, resultando em boa reabilitação nutricional com baixos índices de mortalidade. Observou-se alto percentual de crianças admitidas como DEP primário que tinham alguma doença associada. O atraso no diagnóstico pode ser responsável pelo maior tempo de internação e dos índices de mortalidade.

Keywords