Saúde em Debate (Mar 2021)

Violência institucional e enfermidade mental: narrativas de egressos de um manicômio da Bahia

  • Antonio José Costa Cardoso,
  • Gabriela Andrade da Silva,
  • Renê Luís Moura Antunes,
  • Jaqueline Leu Santos,
  • Daniela Viana da Silva,
  • Samuel Martins de Jesus Branco,
  • Enrique Araujo Bessoni

DOI
https://doi.org/10.1590/0103-1104202012712
Journal volume & issue
Vol. 44, no. 127
pp. 1105 – 1119

Abstract

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RESUMO Sob a perspectiva da Reforma Psiquiátrica, a presente pesquisa objetivou apresentar relatos de violência institucional em internações de longa duração em um manicômio a partir de itinerários de vida de pessoas em processo de desinstitucionalização. Foi realizada observação participante de nove beneficiários do Programa De Volta para Casa desospitalizados há 13 anos em município de grande porte da Bahia. Os diários de campo, assim como transcrições de entrevistas semiestruturadas com três profissionais de saúde, foram transformados em nove narrativas, que, analisadas qualitativamente, permitiram identificar violências sofridas no período anterior à admissão no hospital e da internação. As razões de internação diferiram por gênero: homens foram internados por crimes contra a pessoa; mulheres, por ‘quebra de resguardo’, frustrações amorosas e violência física e sexual. Durante a internação, emergiram o cotidiano administrado e a exposição à violência institucional (ausência de atividades socioterapêuticas, medicação em doses punitivas com efeito sedativo, negligência à saúde física, agressão física, confinamento, ‘injeção’ e ‘choque elétrico’, preconceito, estigma), em que os sujeitos tiveram neutralizadas suas possibilidades de reação à dominação. Os resultados proporcionaram reflexão sobre a violência do Estado, crucial no atual contexto de desconstrução da Política Nacional de Saúde Mental.

Keywords