Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2021)
SÍNDROME DE ERDHEIM-CHESTER: UM RELATO DE UM CASO DE INCIDÊNCIA DESCONHECIDA
Abstract
A doença de Erdheim-Chester (DEC) tem aproximadamente 1.500 casos conhecidos desde 1930. É caracterizada por infiltração de histiócitos espumosos CD68+ e CD1a- nos tecidos. Mutações ativadoras da via MAPK estão presentes em mais de 80% dos casos; da via BRAF-v600e em 57% a 70% dos casos; seguido por MAP2K1 em 20% dos casos. BRAF é um dos três membros da família RAF de serina/treonina quinases (ARAF, BRAF e CRAF), cujos produtos proteicos são efetores da via MAPK. Mutações em BRAF facilitam a instabilidade genômica, aumentando o poder de diferenciação celular e, consequentemente, infiltração, o que intensifica o processo de diferenciação celular e de supressão de apoptose das células mutadas. Vários proto-oncogenes fazem parte dessa via, que pode ser estimulada por praticamente todos os fatores de crescimento clássicos e está hiperativa em 30% de todos os tumores humanos. A DEC, na maioria dos casos, tem curso de alto grau, sendo fatal principalmente quando há acometimento multissistêmico. A prevalência da doença é em >55 anos, sexo masculino com proporção de 3:1. A DEC tem tropismo por ossos longos, retroperitônio, sistema cardiovascular, sistema nervoso central e olhos, assim os sintomas manifestados são os mais diversos. Nas manifestações ósseas, presentes em até 95% dos pacientes, sinal inflamatório é o mais comum, o que culmina em dor em MMII, o tratamento é sintomático. Alterações cardiovasculares, presente em 40% dos casos, à RNM é comum o envolvimento aórtico por tecido amorfo, sendo geralmente assintomático. Quando ocorre infiltração nas artérias coronárias, em cerca de 23% dos casos, é similar à estenose coronária. O Dx é realizado por meio de anatomopatológico e dos marcadores imuno-histoquímicos à biópsia, observando-se células-gigantes de Touton e marcadores CD68+, CD163+, FXIIIa+ e CD1a-. O tratamento é feito com transplante de células tronco hematopoiéticas autólogo, protocolos com IFN- e com vemurafenib. A busca foi retrospectiva em prontuário eletrônico do paciente. A exemplo, paciente masculino, 52 anos, atendido em ambulatório de neurologia. Paciente previamente hígido, iniciou com episódios de cefaléia frontoparietotemporal progressiva há 6 meses e com sintomas associados de náuseas, vômito, vertigem, diplopia e ataxia. Nega sintomas B, porém relata perda ponderal de 30 kg neste período. À evolução, afasia de Broca. Sem demais alterações. Ao exame clínico neurológico, pupilas midriáticas e isofotorreativas, nistagmo horizontal, sem déficit da MOE. Paralisia central da face e de palato mole à esquerda, com desvio de úvula na mesma direção. Romberg positivo à direita. À RNM de crânio, dilatação ventricular bilateral sem desvio de linha média. Lesão expansiva à esquerda, no ângulo ponto-cerebelar, estendendo-se ao forame magno, comprimindo o tronco cerebral e estruturas adjacentes. Realizada biópsia da lesão. À imunohistoquímica CD68 (+) e CD1a (-). Em consultoria com serviço de hematologia da instituição. A partir dos achados, indicam proliferação de natureza histiocítica, fechando-se diagnóstico para doença de Erdheim-Chester. O tratamento administrado foi o IFN-α / PEG-IFN-α e o agente quimioterápico vemurafenib. Pelo diagnóstico tardio, o paciente evoluiu com importante agravamento neurológico. Portanto, quão mais precoce é feito o diagnóstico, melhor o prognóstico apesar da agressividade da doença. Paciente segue em follow-up.