Revista Portuguesa de Pneumologia (Mar 2004)

Relação do teor em alcatrão dos cigarros com a mortalidade por cancro do pulmão no Grupo Prospectivo de Prevenção de Cancro - II, 1982-8

  • Jeffrey Harris,
  • Michael Thun,
  • Alison Mondul,
  • Eugenia Calle

Journal volume & issue
Vol. 10, no. 2
pp. 175 – 176

Abstract

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Estudo epidemiológico realizado com o contributo da American Cancer Society com o objectivo de avaliar o risco de cancro do pulmão em fumadores de cigarros com filtro com conteúdo médio (standard) de alcatrão, comparativamente a fumadores de cigarros com baixo e muito baixo teor em alcatrão e, ainda, comparativamente a fumadores de cigarros sem filtro com elevado conteúdo em alcatrão. Participaram 364 239 homens e 576 535 mulheres com mais de 29 anos e que nunca tinham fumado, eram ex-fumadores ou fumadores activos fiéis à mesma marca de tabaco (mínimo de 10 anos). A análise incidiu sobre a mortalidade por cancro do pulmão. Durante os 6 anos de acompanhamento (1982-1988), morreram por neoplasia 2622 homens e 1406 mulheres. O estudo concluiu que: • Independentemente do teor em alcatrão, todos os fumadores activos tinham maior risco de cancro do pulmão do que os ex-fumadores e os não fumadores. • O risco de cancro do pulmão foi semelhante nos fumadores de cigarros com conteúdo médio, baixo ou muito baixo em alcatrão. • Os fumadores de tabaco sem filtro e alto teor em alcatrão apresentaram um risco ainda mais elevado de cancro do pulmão. • O risco de neoplasia do pulmão nos ex-fumadores antes dos 35 anos foi próximo do risco dos que nunca fumaram. COMENTÁRIO: A maioria dos estudos de caso-controlo examinaram os riscos de cancro de pulmão entre tabaco com alto teor em alcatrão e tabaco com teor médio (convencional). A presente análise é mais realista, dada a redução da percentagem de fumadores de cigarros sem filtro/alto teor em alcatrão, pelo menos na Europa Ocidental. Contudo, atendendo à idade dos doentes, duração dos hábitos tabágicos e duração da comercialização de tabaco de baixo/muito baixo teor em alcatrão, a maioria dos casos não pode ter fumado ao longo da vida exclusivamente estes tipos de cigarros – pelo que a análise não compara com todo o rigor vários tipos exclusivos de cigarros. Mas, apesar da crítica, os resultados obtidos não são inesperados e são até compatíveis com o descrito “fenómeno do acto compensatório de fumar”, ou seja, o fumador tem tendência a regular os níveis de nicotina desejados. Assim, ao fumar tabaco com menor concentração, promovemse inalações compensatórias de forma que a quantidade de nicotina se mantenha a mesma. Como a quantidade de nicotina e de alcatrão estão directamente associadas, a necessidade de manter os níveis de nicotina leva também à manutenção da inalação de alcatrão. Além disso, o alcatrão não é um forte indicador da quantidade de carcinogéneos libertados, nomeadamente as nitrosaminas que podem até aumentar com as novas técnicas de tratamento/mistura do tabaco na manufacturação. Palavras-chave: tabaco, teor em alcatrão/nicotina, cancro do pulmão