Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)
CRIPTOCOCOSE: ASPECTOS CLÍNICOS E CARACTERIZAÇÃO DOS ISOLADOS FÚNGICOS DE PACIENTES INTERNADOS EM HOSPITAL REFERÊNCIA NO ESTADO DO CEARÁ
Abstract
Introdução/Objetivo: Criptococose é a infecção causada a partir da inalação de leveduras do gênero Cryptococcus e tem distribuição mundial. A maior ocorrência se dá em pessoas imunossuprimidas, manifestando-se geralmente como meningoencefalite ou de forma disseminada. A mortalidade é elevada, mesmo utilizando-se tratamento adequado. O objetivo deste estudo foi identificar os aspectos clínicos de pacientes acompanhados em um serviço de referência, e caracterizar molecularmente os isolados fúngicos. Métodos: Estudo de coorte prospectivo de pacientes com diagnóstico de criptococose, internados no Hospital São José (HSJ), em Fortaleza/Ceará, no período de outubro de 2020 a junho de 2023. Resultados: No período do estudo foram incluídos 48 pacientes; 81,2% (39/48) eram pacientes do sexo masculino. A maioria (93,7%) apresentava quadro de meningoencefalite criptocóccica e três pacientes apresentavam criptococose disseminada, sem acometimento neurológico. Cerca de 91,6% (44/48) apresentavam diagnóstico de infecção pelo HIV e a mediana de contagem de linfócitos T CD4+ foi de 34 células/mm3. Dois pacientes apresentavam outros fatores de imunossupressão como uso crônico de corticoide e diabetes mellitus. Em dois pacientes não foram identificadas causas de imunossupressão. Óbito foi o desfecho de 11 (23%) pacientes. Dois pacientes que foram a óbito apresentavam outras infecções oportunistas como histoplasmose disseminada e meningite tuberculosa. Em 15 pacientes foi realizada a titulação do Antígeno Criptocócico (CrAg) no líquor. Os títulos variaram entre 1:80 a 1:163840. Onze pacientes obtiveram títulos de CrAg ≥1:1280. A identificação de 38 isolados fúngicos foi realizada pela técnica de MALDI-TOF, onde 92,1% (35/38) eram C. neoformans e 7,9% (3/38) eram C. gattii. Quanto à tipagem molecular, observou-se que 97,1% (34/35) das leveduras de C. neoformans eram da linhagem VNI; os isolados de C. gattii foram identificados como VGII. Conclusão: Nesta casuística evidenciou-se que a criptococose acomete gravemente pessoas com imunossupressão avançada. Altos títulos de antígeno criptocócico podem ter influenciado nos óbitos. Observa-se ainda o isolamento de C. gattii VGII altamente virulento. Ratifica-se a importância de políticas de saúde específicas para estes grupos, visando diagnóstico precoce e diminuição dos óbitos e sequelas.