Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)

MIASTENIA GRAVIS ANTI-MUSK POSITIVO EM PACIENTE VIVENDO COM HIV/AIDS

  • Guilherme Ribeiro Gama,
  • Leopoldo Tosi Trevelin,
  • Pedro Paulo Lima Gonçalves,
  • Fábio Marcondes Pacheco,
  • Pedro Guilherme Ferrari

Journal volume & issue
Vol. 27
p. 103029

Abstract

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Na literatura atual, existem poucos relatos da associação entre infecção por HIV e miastenia gravis, sendo que relatos com anti-MuSK positivo ainda mais raros. Paciente de 43 anos, homem que faz sexo com homens, diagnosticado com infecção por HIV em 2006, com atual uso regular de terapia antirretroviral, apresentou-se com queixa de dificuldade de deglutição em associação com diminuição de força em membros inferiores há 5 meses. Apresentou, então, período de 1 mês de remissão dos sintomas, com posterior reaparecimento dos mesmos sintomas associados a fadiga, que piorava com o passar do dia, dificuldade de sustentação cervical e diplopia pior à noite. O paciente foi internado para esclarecimento diagnóstico. Mantinha carga viral para HIV detectável até 2018, quando passou a apresentar carga viral indetectável. Apresentou escape transitório da viremia plasmática (''blip'') em dosagem de maio de 2022, prévia ao início dos sintomas. Em dezembro de 2022, resultou indetectável. Apresenta nadir de linfócitos T CD4+ de 32 células e contagem de CD4+ à internação de 224 células. Ao exame físico, o paciente apresentava diminuição de força de membros inferiores (grau 3) com comprometimento de marcha, sem alteração de sensibilidade, além de diminuição de força cervical com hiperflexão do pescoço e engasgos à deglutição. Pares cranianos sem alterações, reflexos tendíneos profundos normais. Exames laboratoriais de rotina não demonstraram alterações, assim como tomografia de crânio e provas tiroideanas. Aventado o diagnóstico de miastenia gravis. O paciente foi avaliado pela equipe de Fonoaudiologia, que observou redução do movimento anteroposterior de língua, redução do contato e tempo de contato da base da língua contra a parede posterior da faringe, redução da elevação da laringe durante a deglutição, redução da constrição da faringe, estase moderada em valéculas e transição faringoesofágica com a consistência sólida, penetração laríngea discreta a moderada, após a deglutição até nível das pregas vocais, com conclusão de disfagia orofaríngea neurogênica. O paciente também foi avaliado pela equipe de Neurologia Clínica, quando foi instituído teste terapêutico com Piridostigmina 30 mg em duas doses diárias com melhora importante de todos os sintomas que motivaram a internação. Resultados de anticorpo anti-receptor de ACTH negativo e anti-MuSK positivo. Paciente recebeu alta hospitalar com proposta de seguimento ambulatorial com equipes de Infectologia e Neurologia.

Keywords