Revista de Saúde Pública (Jun 2005)

Partos domiciliares acidentais na região sul do Município de São Paulo Accidental home deliveries in southern São Paulo, Brazil

  • Márcia Furquim de Almeida,
  • Gizelton Pereira Alencar,
  • Maria Hillegonda Dutilh Novaes,
  • Ivan França Jr,
  • Arnaldo Augusto Siqueira,
  • Daniela Schoeps,
  • Oona Campbell,
  • Laura Rodrigues

DOI
https://doi.org/10.1590/S0034-89102005000300006
Journal volume & issue
Vol. 39, no. 3
pp. 366 – 375

Abstract

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OBJETIVO: Identificar a freqüência, o risco de mortalidade fetal e neonatal precoce e os determinantes do parto domiciliar acidental. MÉTODOS: Estudo caso-controle de base populacional sobre mortes fetais e neonatais precoces realizado na região sul do Município de São Paulo. Foram coletados dados em entrevistas domiciliares e de prontuários hospitalares. Os motivos referidos pelas mães para a ocorrência de partos domiciliares foram obtidos nas entrevistas. Os fatores de risco para o parto domiciliar foram obtidos comparando-se com os partos hospitalares. Os dados foram analisados separadamente para perdas fetais, óbitos neonatais e sobreviventes. Foram utilizadas odds ratio, intervalo de confiança de 95% e o teste exato de Fisher para avaliar os fatores de risco e estimar o risco de morte. RESULTADOS: A freqüência de partos domiciliares de 0,2% no Sistema de Informações de Nascidos Vivos está sub-notificada. Quando ajustada, passa a ser de 0,4%, compatível com a encontrada em algumas cidades da Europa. Todos os partos domiciliares identificados foram acidentais. O parto domiciliar acidental está associado ao aumento da mortalidade fetal e neonatal precoce. Características sociais das mães e da gestação estão associadas à ocorrência de partos domiciliares acidentais, e não são sempre as mesmas para os três tipos de desfecho (óbito fetal, óbito neo-natal precoce e sobreviventes). A falta de transporte para o hospital foi indicada como motivo para os partos domiciliares por 30% das mães. Falhas do sistema de saúde em reconhecer a iminência do parto e a não disponibilidade de atendimento de urgência contribuíram para a ocorrência de alguns partos domiciliares. CONCLUSÕES: Apesar de serem eventos raros, pelo menos em área urbana, os partos domiciliares acidentais devem merecer atenção específica, já que acarretam aumento do risco de morte e parecem ser evitáveis.OBJECTIVE: To identify the frequency, risks of fetal and early neonatal mortality and the determinants of accidental home deliveries. METHODS: A population-based case control study of fetal and early neonatal deaths was carried out in the southern area of São Paulo, Brazil. Data were collected through home interviews and hospital record reviews. The reasons reported by the mothers were obtained from interviews and risk factors for home delivery were obtained comparing home to hospital deliveries. Data were analyzed separately for fetal and early neonatal deaths and survivors. Odds ratios, 95% confidence intervals and Fisher's exact test were used in estimating risk factors and mortality risk. RESULTS: The 0.2% frequency of home deliveries was underestimated in the live births information system. After adjustment, it reached 0.4%, comparable to other urban areas in Europe. All home deliveries identified were accidental and were associated to an increased fetal and early neonatal mortality. Mothers' social conditions and pregnancy characteristics were associated to accidental home deliveries and these factors are different outcomes studied (fetal losses, early neonatal deaths and survivors). In 30%, mothers reported lack of available transportation to the hospital as a reason for home delivery. Failure of health services in identifying labor women and non-availability of emergency care contributed to accidental home deliveries. CONCLUSIONS: Though rare events in urban areas, accidental home deliveries should be of special concern to health services because they seem to be avoidable and imply in increased risk of death.

Keywords