Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

IMPORTÂNCIA DO PROTOCOLO DE RESERVA CIRÚRGICA COMO FERRAMENTA DE QUALIDADE PARA GESTÃO DO ESTOQUE DE HEMOCOMPONENTES E REGÊNCIA FINANCEIRA EM INSTITUIÇÃO DE SAÚDE

  • RE Almeida,
  • DPM Almeida,
  • JPB Bokel,
  • FRM Silva,
  • AG Vizzoni

Journal volume & issue
Vol. 45
p. S770

Abstract

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Introdução: A medicina transfusional se consolidou como terapêutica importante no tratamento de diversas patologias clínicas e agenciada como garantia à segurança intraoperatória em procedimentos cirúrgicos de risco hemorrágico elevado. Apesar do conhecimento científico ampliado, da introdução de testes laboratoriais e da melhoria na triagem de doadores resultarem em qualidade e segurança, a transfusão ainda se relaciona a complicações de gravidade variável. As transfusões têm sido associadas a piores resultados como aumento da ocorrência de insuficiência renal e infecção, bem como complicações respiratória, cardíaca e neurológica em pacientes transfundidos. Tais desfechos oneram financeiramente as instituições de saúde com aumento do tempo de internação hospitalar, indigência de tratamentos ou exames complementares para enfrentamento aos danos produzidos. Também há o desafio em se assegurar disponibilidade de hemocomponentes em estoque pois o Brasil exibe estatística de doação inferior à promulgada pela OMS para a autossuficiência em componentes sanguíneos. Entre 2016 e 2019, 1,7% a 1,8% da população brasileira era doadora de sangue, se contraindo a 1,47% no ano de 2020. Esse cenário ficou agudamente crítico na pandemia por SARS-CoV2 e tendenciona a dificuldades com a transição vital como resultado, em ambos, do aumento da demanda por transfusão concomitante à redução de doadores. Para as instituições de saúde, a escassez em produtos sanguíneos refreia o potencial assistencial a pacientes em situações clinicas debilitantes ou candidatos a procedimentos cirúrgicos. Discussão: A agência transfusional em análise é um serviço de apoio terapêutico às especialidades clínicas e cirúrgicas de uma instituição de saúde cujo perfil assistencial alude a atendimentos de urgência e emergência, com mais de 250 transfusões/mês e frequentemente instituindo protocolos de transfusão maciça. No ano de 2021, as cirurgias ortopédicas representaram 92,8% dos procedimentos cirúrgicos com reserva de Concentrado de Hemácias (CH) mas com 83% de compatibilizações desnecessárias. Considerando que a medicina transfusional é onerosa em razão do emprego de tecnologias de alta valoração e que reservas cirúrgicas dispensáveis atribuem à instituição custos inúteis e falta temporária de hemocomponentes, tornou-se imperativo ponderar a política de uso de produtos sanguíneos para procedimentos operatórios ortopédicos. Deste modo, 394 cirurgias eletivas avaliadas no ano de 2022 promoveram o preparo de 756 CH para reserva cirúrgica, porém consumo de 31 CH na etapa intraoperatória (4,1% da reserva cirúrgica). A partir do levantamento dos dados relativos às particularidades de reservas cirúrgicas e consumo intraoperatório de CH, foi possível apreciar parâmetros norteadores para uma conduta hemoterápica prévia às cirurgias ortopédicas. Apenas as cirurgias de artroplastias de quadril, fratura de acetábulo e amputação de membros inferiores requerem reserva cirúrgica de CH. A grande maioria dos procedimentos não requer nenhuma reserva de CH, o que significaria para a instituição uma economia de 89,8% em custos no preparo de reservas cirúrgicas desnecessárias se o protocolo estivesse em vigor. Conclusão: A reserva cirúrgica excessiva de CH impõe desafios às instituições à medida que desperdícios financeiros e a indisponibilidade temporária desse recurso terapêutico comprometem a assistência a outros pacientes e a viabilidade econômica do serviço de saúde. É imperativo rever recursos de transfusão em cirurgias, baseando a decisão em uma avaliação individualizada do perfil do paciente e do tipo de procedimento para uma alocação eficiente dos hemocomponentes e economicidade para a instituição.