Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
ANÁLISE DE SOBREVIDA NAS LEUCEMIAS AGUDAS EM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO RIO DE JANEIRO
Abstract
Objetivo: As leucemias agudas são urgências médicas, com necessidade de intervenção e que, ainda que instituído o tratamento quimioterápico precoce, mantém elevadas taxas de mortalidade. Essas taxas variam de acordo com o tipo de leucemia aguda e com a instituição na qual ocorre o tratamento. O objetivo do trabalho é analisar a sobrevida global (SG) dos pacientes após o diagnóstico de leucemias agudas, estratificando em sobrevida após indução e após 5 anos. Materiais e métodos: Realizada análise retrospectiva de dados no sistema de prontuário eletrônico dos pacientes diagnosticados com leucemia aguda entre os anos de 2000 a 2023 em nosso Hospital Universitário. Foram analisados: data do diagnóstico, início do tratamento, último seguimento, óbito, idade, tipo de leucemia e resposta à indução de remissão em primeira linha. Resultados: Foram incluídos 228 pacientes, sendo 142 do sexo masculino (62,3%) e 86 do sexo feminino (37,7%). A idade mediana foi de 48 anos (12-88 anos). Quanto à classificação da leucemia, 161 (70,6%) pacientes tinham diagnóstico de leucemia mieloide aguda (LMA), 19 (8,3%) de leucemia promielocítica aguda (LPA) e 48 (21,1%) com leucemia linfoblástica aguda (LLA). A SG em 30 dias (período da indução) foi de 82%, sendo 77,6% na LMA, 79% na LPA e 95,9% na LLA. Já a SG em 5 anos foi de 22,8%, sendo 19,9% no grupo LMA, 57,9% no LPA e 31,25% no LLA. A mediana de SG da população estudada foi de 11,6 meses. As principais causas de morte dos pacientes estudados foram: progressão de doença (45,9%), infecção (36,9%), hemorragia (7,7%) e outras causas (9,5%). No total, 40 pacientes (17,5%) foram submetidos a transplante alogênico de medula óssea (alo-TMO), com SG desse subgrupo em 5 anos de 25%. Discussão: Nos últimos anos, houve progressos diagnósticos e terapêuticos nas leucemias agudas. Contudo, as taxas de mortalidade continuam elevadas. Em um estudo brasileiro semelhante, realizado em 3 centros públicos,a SG em 5 anos em pacientes com LMA foi de 39,4%, mais elevada que no nosso centro, mas com causas do óbito semelhantes: progressão de doença (37,72%), infecção (32,58%) e hemorragia (8,80%). Em outro estudo, publicado por Centro brasileiro de medicina privada, a mediana da SG na LMA com idade mediana superior ao da nossa coorte superou 12 meses, mais elevada que a da nossa instituição. Quanto à LPA, em um estudo americano, observou-se taxa de mortalidade na indução de 12%, com SG em 5 anos de 71%, dados esses melhores do que encontramos, mas corroborando que a LPA segue com maior SG que os demais tipos de leucemia. Quanto à SG da LLA do adulto, estudo americano encontrou 38% em 5 anos, comparável ao valor encontrado na nossa população. Assim como em nossa coorte, a minoria dos pacientes seguiu para alo-TMO, demonstrando uma demanda ainda não atendida em diferentes instituições. Conclusão: A mortalidade da leucemia aguda segue elevada e o acesso à terapia celular, tratamento promissor, que pode impactar positivamente na SG, ainda é restrito para a maioria dos pacientes. No âmbito da saúde pública de nosso estado, a limitação ao acesso à biologia molecular para diagnóstico assertivo, dificuldade de acesso a novas opções terapêuticas e o atraso no diagnóstico e no encaminhamento para centros de referência, impactam negativamente nas taxas de SG quando comparamos com instituições privadas ou de países desenvolvidos.