Estudos Internacionais (Apr 2013)
Os movimentos contestatórios no Oriente Médio e no Norte da África: a Tunísia é a solução?
Abstract
A onda de contestação aos regimes autocráticos dos países árabes do Oriente Médio e arabizados do Norte da África tem sido vistos como uma luta pela democratização e modernização das relações sociais e políticas. No entanto, a imagem do jovem tunisiano ateando fogo ao próprio corpo, depois de ver confiscado o seu carro de venda de frutas e legumes, reflete bem o espírito das manifestações que tomam conta destes países. Trata-se, por um lado, de um ato extremo em protesto contra uma situação social em que uma taxa de desemprego de 25% mantém uma população jovem, muitas vezes com educação superior, alijada do mercado de trabalho e com baixo nível de expectativas em relação ao seu futuro. Por outro lado, a autoimolação representa um dos atos mais estranhos aos olhos ocidentais: a possibilidade de demandas políticas expressarem-se por meio de valores religiosos ou através de costumes tidos como pré-modernos ou simplesmente primitivos. O ato do jovem tunisiano pode ser lido, então, como uma figura indicial que remete a dois significados: a) protesto contra uma situação econômica desigual que não oferece expectativas justas de vida, frente a regimes políticos que constrangem e limitam estas expectativas; b) uma demanda política que se consubstancia por meio de um código simbólico alheio àquele ocidental, avesso à não separação entre as ordens política e religiosa. O objetivo deste ensaio é o de entender os movimentos contestatórios nos países árabes e arabizados na interseção destas duas ordens simbólicas de forma a compreender suas consequências para a constituição de novos regimes políticos no Oriente Médio e no Norte da África, tendo em vista as demandas por democratização e a destituição dos governos autocráticos. Versão modificada deste trabalho foi apresentada no III Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais, ABRI, realizado entre os dias 19 e 22 de julho de 2011, na Universidade de São Paulo – USP.