Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2024)

EP-421 - UM RARO CASO DE NEUROASPERGILOSE EM PACIENTE IMUNODEPRIMIDO PELO HIV/AIDS - RELATO DE CASO

  • Renata Bezerra de Miranda,
  • Sara Grigna G.A.M. Medeiros,
  • Igor Thiago Queiroz,
  • Guilherme Lucas de Oliveira Lima,
  • Túlio Pereira Ramalho,
  • Fábio Medeiros de Azevedo

Journal volume & issue
Vol. 28
p. 104319

Abstract

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Introdução: Aspergilose é uma infecção fúngica passível de acometer diversos sítios. É rara no sistema nervoso central (SNC), ocorrendo principalmente em imunodeprimidos graves. Objetivo: Relatamos o caso de um paciente com AIDS e aspergilose invasiva do SNC (AI-SNC) pela raridade da sua apresentação, para chamar a atenção para esse diagnóstico diferencial nos pacientes com AIDS e manifestações neurológicas. Método: Revisamos um total de 47 casos - incluindo o que relatamos - de infecção pelo HIV/AIDS e AI-SNC com confirmação diagnóstica por histopatológico ou cultura. Resultados: Paciente com infecção pelo HIV de longa data, tratamento irregular, carga viral (CV) do HIV indetectável, sinais clínicos e laboratoriais de imunossupressão avançada, com sintomas neurológicos inespecíficos - cefaleia e tontura. Iniciou terapia empírica para neurotoxoplasmose, após imagem radiológica sugestiva. Apresentou convulsão, hemiparesia esquerda rapidamente progressiva, com necessidade de abordagem neurocirúrgica, evoluindo para óbito 45 dias após o início dos sintomas, sem que houvesse a suspeita de infecção fúngica invasiva. A confirmação diagnóstica de neuroaspergilose por biópsia de material cerebral foi feita apenas post mortem. Na análise dos dados, essa neuroinfecção foi mais prevalente no sexo masculino, acometendo ampla faixa etária - 18 meses a 65 anos, todos com infecção avançada pelo HIV, sendo o caso que relatamos o único com CV indetectável. Os principais fatores de risco foram contagem de linfócitos T CD4+ < 50 céls/mm³ e neutropenia. Alteração do estado mental, cefaleia e convulsão foram as manifestações mais frequentes. Em mais de 78% dos casos havia também comprometimento extra-SNC. Quando realizado tratamento antifúngico, anfotericina B foi a droga mais utilizada. A letalidade foi superior a 91%. Conclusão: O diagnóstico de AI-SNC é desafiador em decorrência da baixa suspeição clínica em indivíduos infectados pelo HIV, inexistência de imagem radiológica específica, dificuldade na realização de coleta de material para cultura e/ou histopatológico e demora para o resultado de biópsias. Por isso, chamamos a atenção para esse diagnóstico diferencial em indivíduos imunodeprimidos por HIV/AIDS com manifestações neurológicas ou sintomas focais inespecíficos, mesmo sem fator de risco clássico para a aspergilose, como neutropenia, e sugerimos o início precoce de tratamento empírico antifúngico dada a alta morbimortalidade, enquanto se prossegue com a investigação etiológica.