Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (Mar 2008)

Orientação inicial da dispepsia ao nível dos cuidados de saúde primários. Revisão sistemática

  • Filipa Almada Lobo

DOI
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v24i2.10477
Journal volume & issue
Vol. 24, no. 2

Abstract

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Introdução: A orientação inicial da dispepsia, ao nível dos cuidados primários, é controversa. Estima-se que, por ano, cerca de 4 em cada 10 adultos apresentem um novo ou um primeiro episódio de dispepsia, e que 1 em cada 10 vá consular o seu médico. Muitos dos doentes que são submetidos a endoscopia digestiva alta (EDA) não revelam achados significativos. O objectivo deste trabalho é determinar, com base em evidências científicas, quais as estratégias de cuidados primários que apresentam a maior relação «custo-eficácia» para orientação inicial de pacientes com dispepsia. Metodologia: Realizou-se uma pesquisa sistemática em várias fontes: MEDLINE®, The Cochrane Library, Bandolier, Medscape®, TRIP database, DARE, EBM Resources e Preventive Services, de artigos publicados entre 1985 e Maio de 2005. Foram pesquisados ensaios clínicos aleatorizados (ECA) que comparam as diferentes estratégias iniciais. Incluíram-se cinco ECA para a comparação «EDA inicial» versus «tratamento empírico», quatro ECA para a comparação «teste para Helicobacter pylori (H. pylori) e sua erradicação («testar e tratar») versus «intervenção farmacológica» e quatro ECA para a comparação da estratégia «testar e tratar» versus «EDA». Foram revistas três metaanálises (uma ainda por publicar), oito guidelines baseadas em evidências científicas e uma revisão baseada em evidências científicas. Resultados: Os cinco ECA (n = 1.473) onde a EDA inicial foi comparada com o tratamento empírico demonstraram uma redução não significativa do risco de recorrência dos sintomas dispépticos. Em quatro ECA (n = 1.863), a estratégia de EDA inicial levou a um benefício clínico pequeno, mas estatisticamente significativo, relativamente à estratégia de «testar e tratar»; no entanto, os custos foram mais altos. Nos quatro ECA (n = 1.056) onde a estratégia «testar e tratar» foi comparada com o tratamento empírico foi demonstrado benefício clínico, estatisticamente significativo, sem diferenças nos custos. Foram também revistas e comparadas as guidelines baseadas em evidências científicas de várias sociedades, com as respectivas forças de recomendação. Discussão/Conclusão: A estratégia inicial «teste para H. pylori associado a erradicação» revela melhor relação entre custo e eficácia do que as estratégias que envolvem EDA ou prescrição inicial; por outro lado, o tratamento empírico mostrou-se mais vantajoso na relação «custo-eficácia» do que a EDA inicial. Esta última não é recomendada como primeira linha de abordagem de doentes com dispepsia sem sintomas de alarme. É apresentado um algoritmo de decisão, com graus de recomendação.

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