Brazilian Journal of Infectious Diseases (Sep 2022)

HTLV E INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA EM IMIGRANTE PROVENIENTE DO HAITI - RELATO DE CASO

  • Bruno de Souza Mendes,
  • Pedro Augusto Simão Vasconcellos,
  • Raquel Silveira B. Stucchi,
  • Plinio Trabasso

Journal volume & issue
Vol. 26
p. 102617

Abstract

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Introdução: A infecção pelo vírus linfotrópico de células T humanas (HTLV) é pouco investigada pois a maioria dos pacientes são assintomáticos e não há cura. Apresentaremos o caso de um paciente com leucemia/linfoma de células T adulto (ATLL) associada ao HTLV. Objetivo: Destacar a importância de triagem para HTLV e a necessidade de conscientizar sobre sua prevenção. Resultados: B.G., 41 anos, masculino, natural do Haiti, residente em Campinas há 11 anos, comissário de bordo. Paciente com histórico de gastrectomia subtotal por estrongiloidíase disseminada 8 anos antes, sem comorbidades, iniciou queixa de mal estar e febre. Em uma semana evoluiu com dispneia, procurando atendimento. Foi internado para oxigenoterapia. Apresentava adenomegalia cervical, axilar, inguinal e mediastinal, além de linfocitose sustentada. Foi descartada Covid-19 e, tendo melhora com tratamento de pneumonia bacteriana, recebeu alta após 15 dias, continuando a investigação ambulatorialmente. Um mês após, apresentava dispneia aos grandes esforços, perda ponderal de 7kg e febre noturna, sendo internado novamente. Tinha células com núcleo multilobulado em sangue periférico (flower cells), infiltrado pulmonar em tomografia, lesões herpéticas em região lombar e verrucosas em genitais. Em biópsia de linfonodo foi feito diagnóstico de ATLL, confirmado em citometria de fluxo de sangue periférico. Sorologia para HTLV positiva e sorologia de HIV negativa. Evoluiu com insuficiência respiratória aguda com necessidade de ventilação mecânica. Teve pesquisa de Pneumocystis positiva no aspirado traqueal. Não respondeu a quimioterapia e zidovudina, falecendo 3 meses após o início do quadro. Conclusão: A infecção pelo HTLV é uma doença negligenciada cuja transmissão se dá por via parenteral e sexual. Cerca de 2-5% evoluem para paraparesia espástica tropical e 1-3% para ATLL. Ela também é considerada fator de risco para outras infecções, tais como estrongiloidíase, escabiose, hanseníase e tuberculose. A ATLL é mais frequente em regiões de alta endemicidade, como o Haiti, e particularmente a partir da 4ª década de vida. Apesar da instituição de quimioterapia, apenas 20-40% respondem, com sobrevida média de cinco meses. Associação de zidovudina e interferon-alfa tem sido proposta como possível otimização terapêutica. Por não ser uma infecção de notificação compulsória, não se sabe a real prevalência do HTLV no Brasil. Estudos epidemiológicos para melhor conscientizar sobre propostas de prevenção são importantes, já que, por ora, não há cura.