Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

UTILIZAÇÃO DA IMUNOFENOTIPAGEM POR CITOMETRIA DE FLUXO PARA IDENTIFICAÇÃO DE NEOPLASIA LINFOPROLIFERATIVA EM AMOSTRA DE CEREBELO: RELATO DE CASO

  • Santos-Pirath IM,
  • CC Cardoso,
  • HZ Costa,
  • NB Heck,
  • G Pereira,
  • JPB Soares,
  • L I-Ching,
  • G Steffenello,
  • AMO Wagner,
  • MC Santos-Silva

Journal volume & issue
Vol. 46
p. S188

Abstract

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Objetivos: Demonstrar a importância da associação da imunofenotipagem por citometria de fluxo com exames histopatológicos para o diagnóstico de neoplasia linfoproliferativa em amostra rara, por meio de um relato de caso de recidiva de linfoma de Burkitt em cerebelo. Material e métodos: Os dados clínicos foram coletados de registros do prontuário eletrônico e os resultados dos exames laboratoriais do sistema informatizado da Unidade de Laboratório de Análises Clínicas e do Serviço de Patologia de um hospital universitário. Resultados: Paciente do gênero feminino, 55 anos, HIV-soropositivo em tratamento com antirretrovirais e carga viral indetectável com diagnóstico prévio de linfoma de Burkitt estágio IV com acometimento extranodal, ósseo (mandíbula), mama e SNC por exames de imagem e anatomopatológico. Foi realizado tratamento com Hyper-CVAD com boa resposta. Após quatro anos, a paciente retorna ao serviço com tontura, sonolência, náuseas, vômitos e diarreia. Após avaliação de TC de crânio, foi observada lesão expansiva sólida no hemisfério cerebelar esquerdo de cerca de 5,0 × 4,8 × 3,0 cm. A paciente foi encaminhada à cirurgia para coleta de biópsia da lesão. Na análise imunofenotípica por citometria de fluxo da amostra de biópsia foi evidenciada a presença de 72,8% de células linfoides B de grande tamanho, maduras e monoclonais com fenótipo sugestivo de linfoma de Burkitt (CD19+, CD20+FR, CD45++, Lambda+FR, CD38+ homogêneo, CD10+, CD81++, BCL-2+; CD5 e CD39 negativos). Morfologicamente, essas células apresentaram de médio a grande tamanho, citoplasma basofílico com vacúolos proeminentes e cromatina nuclear condensada. Esse resultado foi confirmado pela análise anatomopatológica, o qual foi compatível com linfoma de alto grau (CD20+, CD10+, BCL-2+, BCL-6+, MYC+ e EBV+). O esquema terapêutico escolhido na recidiva foi de rituximabe + HDMTX e citarabina. A paciente segue em acompanhamento ambulatorial. Discussão: A aplicabilidade clínica da citometria de fluxo para identificar, analisar e separar células em suspensão de amostras líquidas, como o líquido cefalorraquidiano, já está muito bem estabelecida. No entanto, com exceção de amostras de linfonodo, há limitações quando se trata de tecidos sólidos, devido à necessidade de amostras com elevada viabilidade celular para detectar anormalidades. Recentemente, artigos têm demonstrado a utilização da neurocitometria (citometria de fluxo aplicada ao tecido cerebral) para analisar uma variedade de populações de células cerebrais neuronais e não neuronais. Além disso, sabe-se que o método apresenta alta especificidade e pode confirmar o diagnóstico de linfomas mais rapidamente, quando comparado à análise histopatológica com imuno-histoquímica. A agilidade do diagnóstico é um fator muito importante, considerando que o linfoma de Burkitt apresenta rápida progressão e o prognóstico é fortemente influenciado pelo estágio de acometimento da doença. Conclusão: O caso relatado demonstra a importância da imunofenotipagem por citometria de fluxo para o auxílio no diagnóstico ágil de neoplasias linfoproliferativas em amostras de tecidos não convencionais, como o tecido cerebelar. Isso permite o início precoce do tratamento em casos de doenças agressivas como o linfoma de Burkitt.